Arménia e Geórgia - O Sr João Pereira

Belas, nas últimas décadas cresceu muito. Demais até. E obviamente sem qualquer tipo de ordenamento. Agora ninguém se conhece.
Mas antes de isto acontecer, era uma pequena freguesia em que todos conheciam todos. E todos confiavam em todos. Era uma altura em que ser filho, neto, ou amigo de alguém era um voto de confiança de total. Nomes e alcunhas valiam honra.
As portas estavam sempre abertas, o fiado era generalizado e não cumpri-lo era um crime de lesa-majestade.
Não era só as portas de casa se abriam facilmente, os favores faziam-se facilmente e nada se pedia em troca porque se sabia que um dia se precisássemos, essa pessoa estaria lá.

Foi sobre isto que eu e o taxista João Pereira, que não nos conhecíamos, talvez um par de vezes de encontros na rua quando os joelhos andavam esfolados e cicatrizavam-se com água oxigenada, falámos na ida para o aeroporto tratando-nos por tu. As nossas famílias há muito que se conheciam e os episódios de vida partilhados, daqueles em que se estabelecem laços de amizade sólidos, eram vários.
Mencionou-se nomes que eu conhecia, mas que há muito que não os via, nomes que eu apenas conhecia porque tinha frequentemente ouvido falar neles ou das suas histórias, desfilavam ao longo da sua conversa, algo revivalista, que corria ligeira e fluida.

O negócio dos táxis corre longo no sangue da família Pereira. Começou no avô e continua até aos dias de hoje, com possibilidades de continuidade. Falava com gosto e orgulho da linhagem familiar de taxistas e das histórias de cada um.

- São vinte euros, Pedro. Faz uma boa viagem.
- Obrigado por me teres trazido e diz à tua família que levaste o neto do Joaquim Padeiro ao aeroporto - disse eu a sorrir
- Dá os meus cumprimentos aos teus pais. Da parte do filho do Pereirinha.


Tenho a certeza que no dia seguinte, todos os que pertenciam a Belas dos tempos antigos, iriam saber que nos tínhamos encontrado.



Comentários

Enviar um comentário