Namíbia, Namibe - Deadvlei, a surrealidade da morte


Sossusvlei
Deadvlei


Depois do amanhecer da Duna 45, Sossusvlei oferecer-me-ia o segundo prato do seu menu gourmet de iguarias paisagísticas. Uma caminhada no deserto do Namibe.
Frances foi o guia (descalço!!) que durante esta caminhada, mostrou os segredos do deserto, quer eles estivessem à face da areia, quer enterrados sobre a mesma. Como buscar e encontrar água ou líquidos que a substituam, quais os lagartos mais nutritivos, como nos proteger da inclemência do sol ou das noites frias do deserto. Um canivete suíço do deserto.

Esta caminhada iria conduzir-me a um local onde a morte repousa e reina.




Onde esta pode assumir formas retorcidas, negras, plenas de poesia e elegância. Rodeada por algumas das dunas mais altas do planeta, assentes num manto branco de calcário retalhado onde as sombras são projectadas num profundo silêncio, e que o vermelho opaco das dunas recorta e contrasta, a morte fascina e encanta. Convida à admiração incondicional, à contemplação e tem um nome: Deadvlei.


A palavra "deadvlei" decomposta significa uma depressão estreita, um lago pouco profundo (vlei - palavra de origem afrikaans) de morte (dead), ou, onde a morte se depositou. Bem apropriado este conceito.
A moldura vermelha que as dunas conferem a este local, tem origem no facto de a areia que as constitue, possuir na sua composição óxido de ferro e magnetite para além da típica sílica, mica e feldspato.


São dezenas de acácias que morreram há mais de quinhentos, talvez setecentos anos, e que o ar seco do deserto, as impediu de apodrecer mantendo as suas formas esqueléticas e graciosas carregadas de séculos, inalteradas e silenciosas.
Estar aqui, faz-me pensar que o tempo ao passar por este ermo escondido no deserto do Namibe foi barrado por ele próprio. Onde o tempo desistiu de o ser.






Quando Frances nos faz regressar, por cada passo que me afasto de Deadvlei, mais me aproximo de ter estado num sonho surreal. Por cada passo que me afasto, olho para trás para ter a certeza que este lugar é real. Quando finalmente olho para trás e já não vejo as acácias, poucas dúvidas me restam, que durante horas pairei num sonho surreal e não num lugar concreto.


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