Texturas de África (Botswana II) - tecnologia e pinceladas no Delta do Okavango


Tecnologia e pinceladas





Foi o contacto mais puro com a natureza ao longo desta viagem pela África Austral.
Três dias acampados numa pequena ilha algures no Delta do Okavango. Sem casa de banho, restaurantes ou televisões. Apenas os polers, um fogão de campanha, tendas e uma fogueira à noite.

Os dias neste paraíso insular usualmente começavam com o acordar bastante matinal (combinado na noite anterior) um pequeno almoço rápido e frugal e um briefing sobre as caminhadas previstas (safaris a pé) para explorar o que o Delta nos oferecia em termos de vida selvagem nesses dias.
E eis-me pronto para obter as respostas a aquilo que me questionei sempre que fiz safaris:
Como é ver a vida selvagem em pé de igualdade ? Como é ver os animais olhos nos olhos ? Como é não ter do nosso lado a tecnologia que nos protege e que nos confere superioridade artificial ?

A resposta iria ser dada mais depressa e próximo do que pensava. Um ataque simulado de um elefante alimentando-se a cerca de 20 m do acampamento bem no início de uma dessas caminhada matinais elucidou-me claramente. Na verdade, somos muito pequenos e frágeis.
A nossa reacção primária foi igual ao dos nossos antepassados há milhares de anos atrás quando confrontados com situações semelhantes: fugir.
Afinal, e por experiência própria, sem a tecnologia e armas sofisticadas a evolução não se fez sentir.
Cedric, o guia que conduzia o grupo foi o único que não fugiu. Talvez em termos evolutivos esteja à nossa frente uns quantos passos. Afinal o tempo joga a favor dele. Terá sido de África que Adão e Eva terão surgido em termos genéticos.

Mas o Delta não vive só de natureza e da beleza líquida da sua paisagem, dele faz igualmente parte um elemento que proporciona momentos que transcendem a própria viagem. O acordar e adormecer do nosso astro rei, o Sol.



A primeira pincelada de irrealidade seria com um nascer do sol filtrado pela poeira levantada por uma debandada de zebras.
O quadro que se pintava à nossa frente era tremendo e os nossos olhos pasmavam no que estavam a assistir.
Duas delas pararam, talvez intrigadas ou curiosas, em plena debandada e completamente imersas na poeira levantada pelas que iam à sua frente, para observar quem ousava perturbar o seu jogging matinal.





A segunda pincelada seria dada pelo outro extremo do dia. 
Um pôr-do-sol numa lagoa onde alguns hipopótamos se banhavam.
As proas das canoas adquiriram tons de bronze ao mesmo tempo que o sol em queda pelo horizonte recortava as silhuetas da cortina de árvores e arbustos que se interpunham entre nós e o céu incandescente.












O regresso, silencioso, foi apenas interrompido pelo murmurar da água afastada pelas canoas.
Da minha parte ainda tinha os olhos da alma lá atrás, algures na pequena lagoa.


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