Texturas de África (Botswana IV) - a hemoglobina do Delta do Okavango


Os Polers do Delta


Sem os "polers" provavelmente o Delta do Okavango não existiria para o mundo, não teria alma.
Podemos pensar neles como a hemoglobina do Delta. Tal como a hemoglobina transporta o oxigénio vital para o nosso corpo, eles transportam nas suas canoas os turistas (o oxigénio do Botswana) e toda a sua logística pelo imenso labirinto de veias e artérias aquáticas que dão vida às ilhas onde estes irão passar alguns dias.




O poler é um condutor de canoas. Na língua local estas chamam-se "mekoro" falando no plural, "mokoro" se falarmos no singular.
Estreitas e de base plana, são adequadas às águas calmas e pouco profundas do Delta do Okavango.
Colocam-se atrás na canoa, em pé e com um remo longo em forma de varapau que em inglês tem o nome de "pole" (daí o nome de polers) impulsionam a canoa empurrando-a ao apoiarem o remo no fundo do Delta.

Tradicionalmente estas canoas são feitas de madeira de árvores locais (por exemplo a árvores salsicha) que são escavadas nos seus troncos. No entanto o seu tempo de vida útil é relativamente curto, aproximadamente cinco anos. Ao fim deste tempo a madeira começa a estalar e a deixar entrar água, sendo vulgar nesta situação encontrar os fundos forrados com folhas de capim.
Por uma questão ecológica e turismo sustentado, a madeira tem sido gradualmente a ser substituída por fibra de vidro com uma durabilidade consideravelmente maior.





Navegar nestas canoas é flutuar numa perspectiva rasante de aparente equilíbrio precário.
Um mundo que se descobre e não se esquece a cada impulso da canoa.
E apenas a um palmo acima da água.


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