Ao longo desta viagem pela África Austral, já tinha feito safaris clássicos dentro de um veículo na Namíbia, senti no Botswana as emoções do safari a pé (a sua forma mais pura) e agora, igualmente no Botswana, no Chobe River estava a experimentar fazer um safari de barco.
A sensação era a de um resort flutuante.
Barco largo e plano, motor ronronante, com discreto gradeamento em toda a sua periferia, silencioso, longo toldo de cobertura a toda a área do barco com o chão atapetado de verde, cadeiras dos dois lados, bebidas frescas trazidas por nós e ocasionais borrifos no rosto.
O "homem do leme" - o Sr Bosta (impossível não sorrir...), paciente e de sorriso tímido, ia parando a pedido. O rio Chobe mostrava-se pródigo na vida animal e punha todo o seu catálogo em exibição.
E com este último ficava, finalmente para mim, fechada a busca do Santo Graal de quem faz safaris em África, os Big 5: leões, elefantes, búfalos, rinocerontes e leopardos.
Oskar, um abastado engenheiro civil sueco, vindo de Malmo estava pesadamente sentado numa cadeira branca de jardim e parecia alheado a tudo o que não voasse. Era o segundo ano consecutivo que fazia este safari.
Assumidamente apaixonado por aves, dizia que Chobe era um dos melhores sítios de África para as observar. Justificava dizendo que o barulho do barco não as assustava e que as árvores e os troncos que sobressaiam do lençol de água eram poiso natural e fácil para as aves.
O número de aves que se avistavam próximo de nós, numa atitude calma e relaxada sem se porem em fuga à nossa passagem parecia dar-lhe razão.
Estava hospedado num dos vários lodges existentes no Parque Nacional Chobe. Mais dois dias e partiria de volta para a Suécia.
Estava delirado com as fotografias que tinha tirado da águia pesqueira. Mostrou-mas. Para ele, era das aves mais bonitas que se podiam observar neste safari. Sem discussão. Estava completamente de acordo com ele.
Tal como escrevi aqui no último post, se a Namíbia era o país das vastidões cénicas, o Botswana era o país da poesia visual.
No dia seguinte uma paragem em Kasane. Uma pequena cidade já muito próximo da fronteira com o Zimbabwe.
Especialmente uma com nome feminino mais universal de todos, Maria. Cuja pastilha elástica não parava quieta entre os seus dentes. Vendia cereais, têxteis feitos por si e outras pequenos artigos.
Estava naquele pequeno mercado há cerca de 3 anos. Conseguiu aquele pequeno espaço devido à morte da antiga dona. Há males que vêm por bem.
Fotografá-la foi um divertimento completo, a pastilha um desafio. Por fim, fixei um momento em que a pastilha ficou camuflada entre a brancura dos dentes.
A despedida do Botswana estava feita.
Zimbabwe, o país cujas notas e inflação se medem com nove zeros, estava poucas horas à minha frente.
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