Texturas de África (Botswana V) - Chobe River e Kasane


Oskar e Maria


Ao longo desta viagem pela África Austral, já tinha feito safaris clássicos dentro de um veículo na Namíbia, senti no Botswana as emoções do safari a pé (a sua forma mais pura) e agora, igualmente no Botswana, no Chobe River estava a experimentar fazer um safari de barco.

A sensação era a de um resort flutuante.
Barco largo e plano, motor ronronante, com discreto gradeamento em toda a sua periferia, silencioso, longo toldo de cobertura a toda a área do barco com o chão atapetado de verde, cadeiras dos dois lados, bebidas frescas trazidas por nós e ocasionais borrifos no rosto.
O "homem do leme" - o Sr Bosta (impossível não sorrir...), paciente e de sorriso tímido, ia parando a pedido. O rio Chobe mostrava-se pródigo na vida animal e punha todo o seu catálogo em exibição.




Os insaciáveis elefantes, macacos irrequietos, búfalos eternamente a ruminar, crocodilos furtivos, os flatulentes hipopótamos, o feio marabu stork e o seu oposto, a bela e elegante águia pesqueira. No final a joia da coroa, o avistamento do esquivo leopardo.
E com este último ficava, finalmente para mim, fechada a busca do Santo Graal de quem faz safaris em África, os Big 5: leões, elefantes, búfalos, rinocerontes e leopardos.


Oskar, um abastado engenheiro civil sueco, vindo de Malmo estava pesadamente sentado numa cadeira branca de jardim e parecia alheado a tudo o que não voasse. Era o segundo ano consecutivo que fazia este safari.
Assumidamente apaixonado por aves, dizia que Chobe era um dos melhores sítios de África para as observar. Justificava dizendo que o barulho do barco não as assustava e que as árvores e os troncos que sobressaiam do lençol de água eram poiso natural e fácil para as aves.
O número de aves que se avistavam próximo de nós, numa atitude calma e relaxada sem se porem em fuga à nossa passagem parecia dar-lhe razão.
Estava hospedado num dos vários lodges existentes no Parque Nacional Chobe. Mais dois dias e partiria de volta para a Suécia.
Estava delirado com as fotografias que tinha tirado da águia pesqueira. Mostrou-mas. Para ele, era das aves mais bonitas que se podiam observar neste safari. Sem discussão. Estava completamente de acordo com ele.




O barco começou a dar a volta para o regresso. O pôr-do-sol já se fazia anunciar e não desiludiu. Foi romântico e perfeito.
Tal como escrevi aqui no último post, se a Namíbia era o país das vastidões cénicas, o Botswana era o país da poesia visual.


No dia seguinte uma paragem em Kasane. Uma pequena cidade já muito próximo da fronteira com o Zimbabwe.
De Kasane retenho uma estreita estrada ladeada por terra vermelha, pequenas lojas de utilidades e artesanato e principalmente o pequeno mercado.
Aqui, após uma renhida compra a aproveitar os últimos pula (moeda do Botswana que significa "chuva") que estavam na minha posse consegui fotografar algumas das "lojistas".






Especialmente uma com nome feminino mais universal de todos, Maria. Cuja pastilha elástica não parava quieta entre os seus dentes. Vendia cereais, têxteis feitos por si e outras pequenos artigos.

Estava naquele pequeno mercado há cerca de 3 anos. Conseguiu aquele pequeno espaço devido à morte da antiga dona. Há males que vêm por bem.

Fotografá-la foi um divertimento completo, a pastilha um desafio. Por fim, fixei um momento em que a pastilha ficou camuflada entre a brancura dos dentes.
A despedida do Botswana estava feita.

Zimbabwe, o país cujas notas e inflação se medem com nove zeros, estava poucas horas à minha frente.


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