Belize, Caye Caulker (I) - Go Slow


Go Slow

Quando penso em América Central é com dificuldade que vejo o Belize como um país desta região.
Apesar de fazer fronteira com o México e Guatemala. Belize pouco tem a haver com os seus vizinhos centro americanos.
Na verdade até 1981, ano em que obteve a independência, foi território inglês com o nome de Honduras Britânicas.
Assim, enquanto o espanhol domina toda a América Central, Belize tem no inglês a sua língua oficial.
Musicalmente os ritmos quentes da salsa, merengue e bolero enchem os países hispânicos da América Central, encontramos o reggae e as culturas garifuna e rastafari a dominarem este "enclave" pertencente à Commonwealth.


"Go slow". É o que o turista vê impresso a seus pés, no pontão, quando chega à ilha de Caye Caulker.
Aqui a pressa não existe e o stress desvanece-se. Tipicamente caraíbas. Céus azuis, mar azul turquesa, águas tépidas e brisas ligeiras. A vida corre lenta e morna deitada em camas de rede à sombra de bananeiras, rodeada de azul no céu e no mar, brisas ligeiras, música reggae nos ouvidos, rum punch na mão e peixe fresco e muita lagosta na noite. É o paraíso do não fazer nada, do relax e da boa onda.

O recém chegado depressa percebe que não existem estradas asfaltadas. Apenas três ruas de areia ao longo do comprimento da ilha. A Front Street, Middle Street e a Back Street.
Não verá carros a circular, nem buzinas estridentes. Os únicos que verá são carros de golfe eléctricos que podem ser alugados e os únicos sons que ouvirá serão os toques das campainhas das bicicletas a avisar da sua aproximação e ziguezagueando por nós. Sem pressa.

O primeiro contacto com os locais, será provavelmente para procurar alojamento. É fácil e há para vários preços sabendo de antemão que Caye Caulker sendo uma das ilhas mais baratas de Belize, não é destino acessível.
Os locais reflectem bem a filosofia da ilha. Cigarro no canto da boca, pele escura tisnada pelo sol, olhos brilhantes e espírito despreocupado. Tal como os seus movimentos, falam um inglês lento e arrastado com palavras comidas e unidas foneticamente, exigindo da nossa parte um esforço inicial para o compreender. Tudo muito "cool", muito "yô man".
Uma vez resolvida esta questão, o passo seguinte certamente será descobrir a ilha começando pela "marginal", a Front Street.


um dos vários pontões da Front  Street
com um mangal ao seu lado

É um caminho de areia bem cuidado que corre ao longo da costa principal da ilha.
Uma faixa colorida enfeitada por fachadas pintadas de cores aparentemente inconciliáveis: rosas, amarelos, verdes e azuis. Com diversos pontões e mangais é um local bom para conversas soltas com alguém de outras paragens enquanto o olhar se perde no azul turquesa das águas e pela nossa garganta passa a frescura de uma cerveja.
Iguanas e pelicanos fazem das areias desta avenida o seu poiso habitual.


Ela estende-se até ao topo norte da ilha mesmo junto ao Split passando pelo Lazy Lizard, um frequentado bar tipicamente caribenho que permanentemente passa musica reggae. Movimentado, pintado com cores fortes e telheiro de palha a proteger do sol forte do dia.
Cá fora, bancos e mesas de madeiras dentro de água que permitem o supremo prazer de chapinhar a água com os pés enquanto se aprecia uma bebida, numa pequena enseada criada pela passagem do furacão Hattie que em 1961 rasgou literalmente a ilha criando aquilo que é conhecido pelo Split.


as "traseiras" da ilha com um dos
seus dois pontões ao entardecer





Continuando por este caminho, contornamos a ilha e passamos para as suas "traseiras". Um área menos movimentada e onde se encontram os alojamentos mais baratos. Cabanas de madeira ripada, cujos primeiros raios de sol que nos acordam ao passarem pelas frinchas.
Era deste lado que eu "vivia".

Aqui começava o dia com um mergulho matinal nas águas azuis claras manchadas de verde das algas do mar das Caraíbas e aqui também gloriosamente acabava o dia com incríveis pores-do-sol num dos dois pontões existentes deste lado da ilha.


um dos belos pores-do-sol que diariamente eram
eram admirados nas "traseiras" de Caye Caulker




Dois autênticos palcos com visão privilegiada para o imenso lençol aquático onde o sol diariamente fazia questão de o pintar de laranja antes de nele se deitar.
Um show de cores quentes que se repetia todos os dias.


Após o mergulho da manhã, o dia era encarado com se tratasse de um teste americano de escolha múltipla.
Um livro na mão e música nos ouvidos, apreciando a sombra do alpendre da cabana.
Uma conversa solta e descontraída com alguém num bar.
Alternar entre mergulhos. Uns nas águas tépidas caraibenhas, outros nas geladas Bilikin, a fantástica cerveja beliziana.
Ou ainda, ceder à languidez que o calor provoca em nós embalados no vaivém de uma cama de rede, lendo um livro ou, tentando que este não caía da nossa mão quando os olhos sonolentos se fecham.

Mas a noite fazia-se comendo na rua. Partilhando mesas e conversas com quem estivesse ao nosso lado. Saltando de nome em nome, país em país, ao mesmo ritmo que os nossos vizinhos trocavam os seus lugares ou mudávamos para outras mesas.
Conhecimentos mais efémeros que as paixões de verão de adolescentes, mas tão agradáveis e inevitáveis quanto estes.

Assim se passavam os dias e as noites em Caye Caulker. Devagar e sem stress. Go slow.


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