Camboja, o Genocídio - a demência de Pol Pot (I)

Saloth Sar nasceu a 19 de Maio de 1928 (ou 1925, outra das datas apontadas para o seu nascimento). Com 9 anos é educado nas bases do Budismo e torna-se monge durante alguns anos. Posteriormente estudou em França de 1949 a 1952. Lá conhece o dirigente comunista vietnamita Ho Chi Min e toma contacto com a ideologia comunista através do Partido Comunista Francês.

No inicio de 1953 regressa ao Camboja e adere ao Partido Comunista Indochinês. Em 1960 funda o Partido dos Trabalhadores do Kampuchea (em 1966 passará a ser Partido Comunista do Kampuchea).
Em 1963, com 35 anos, torna-se secretário geral do partido e muda o seu nome para Pol Pot (irmão mais velho). 
Em 1966 viaja para a China. O Maoísmo atrai-o cada vez e recebe o apoio e treino do Partido Comunista Chinês na sua luta contra o Vietname.

A 17  de Abril de 1975, Pol Pot e os Khmers Vermelhos entram em Phnom Penh. E torna-se o maior pesadelo do Camboja.
Até 7 de Janeiro 1979, altura da intervenção vietnamita que pôs cobro a este regime, iriam matar directa ou indirectamente cerca de 3 milhões de cambojanos.
Morre a 15 de Abril de 1998. Oficialmente de ataque cardíaco, mas suspeita-se que terá sido envenenado pelos próprios Khmers Vermelhos para não falar.



O Genocídio

Há uma ferida profunda no Camboja.
Uma ferida que lhes custou a sua cultura, o seu conhecimento e praticamente duas gerações de cambojanos.
Uma ferida que após três décadas ainda os choca e os entristece. Algo que o povo cambojano, e não só, ainda não consegue perceber e explicar.
Pol Pot e os seus Khmers Vermelhos são algo que eles não querem esquecer e que fazem questão de divulgar ao mundo o que lhes aconteceu. Fazem-no de alma e coração aberto, sem raiva, sem lágrimas, mas com a voz embargada de dor.
O objectivo é evitar que tal infâmia, que tal demência, possa ocorrer de novo. No Camboja ou em qualquer outra parte do mundo.

Quando em 1975 entraram em Phnom Penh, instauraram um regime de terror sem paralelo na Ásia e que talvez apenas os Nazis de Hitler se possam comparar a eles.
Em poucos dias esvaziam as cidades e deslocam populações inteiras para os campos. Apenas por 2 ou 3 dias afirmam, o retorno seria breve. Passariam mais de três anos antes que tal acontecesse. As cidades tornam-se vazias e fantasmagóricas.
É abolida a religião e a economia. É abolido o sistema monetário e a livre iniciativa. As escolas e templos são encerrados. Tudo em nome de uma sociedade sem classes, sem posse privada. Um comunismo agrário, radical, livre do capitalismo.
Para tal, iniciam um genocídio gigantesco. Todos os que possuíam profissões que envolvessem o conhecimento, foram alvo de uma perseguição insana, sangrenta e cruel. Eram considerados subversivos. São presos e torturados. Engenheiros, arquitectos, médicos, arqueólogos, filósofos, professores, músicos, dançarinos tornaram-se alvos a exterminar pelos Khmers Vermelhos. Professar uma religião dá direito à execução.
O simples facto de usar óculos era motivo para a sentença de morte. A associação à cultura e ao saber era imediata. Muitos cambojanos deixaram de usar óculos para escapar a esta loucura.

Nos campos de cultivo a situação está longe de ser melhor. Sabem que muitos intelectuais se refugiaram aqui.
Desconfiados, os Khmers Vermelhos põem crianças a passar fome. Sobre a pressão desta, muitas cedem e dizem a verdade sobre a profissão dos seus pais.
Mas as crianças e bebés são igualmente mortos. "Para arrancar as ervas daninhas, tem que se ir às raízes" é o seu lema.
No entanto algumas são arrancadas às famílias. São doutrinadas na ideologia de Pol Pot. Aprendem e praticam métodos de tortura em animais. Tornar-se-ão oficiais, colaboradores, interrogadores e carrascos nas prisões.

Os dias de trabalho são longos, extenuantes e sem alimentação. Não existe apoio médico ou medicamentos. As pessoas são deixadas à sua sorte. A morte grassa. Cansaço, doença, desidratação e subnutrição contribuem para a macabra contagem.
O adormecer no local trabalho, fraca produção, ajudar o companheiro do lado ou o conversar são suficientes para castigos, detenções, tortura e execuções.

Os próprios Khmers Vermelhos matam-se uns aos outros. Entre eles, as desconfianças, suspeições, denúncias e suspeitas de falta de lealdade para com o regime, atiram-nos igualmente para as prisões onde são igualmente torturados e executados.
O desrespeito e animosidade contra a vida humana atinge um nível inacreditável.


Os números

Estima-se que directamente às mãos dos Khmers Vermelhos tenham morrido cerca de 1.7 milhões de pessoas.
Por sua vez nos campos, pelas condições de trabalho e ausência de cuidados de saúde calcula-se aproximadamente 1.2 milhões de mortos.
As contas finais são terríveis a avassaladoras. Cerca de três milhões de cambojanos terão perecido.
No período de 1975 a 1979, exactamente durante 3 anos, 8 meses e 20 dias, um número muito presente nos cambojanos, o regime de Pol Pot assassinou pouco mais de 40% da população do Camboja - 7 milhões de habitantes - desta altura.



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