Camboja - Phnom Penh (I)


Vibrante e caótica

"Tuk Tuk Sir?? Tuk Tuk??"
Esta bem podia ser a frase de saudação de Phnom Penh, a capital do Camboja, à chegada do visitante.
Toda a cidade fervilha de tuk tuks. São pequenos triciclos motorizados com cabine que podem transportar entre duas a quatro pessoas.




Aliás na verdade, toda a cidade fervilha do quer que seja. Motas, lambretas, bicicletas, carros, vendedores ambulantes e pessoas a pé.
O trânsito é uma massa caótica, mas harmoniosa, de movimento. Mas não ávida de conquista, de chegar primeiro, de tapar alguém à boa maneira ocidental. E parece seguir apenas uma regra: os mais pesados têm prioridade.

Atravessar as ruas exige conhecer uma regra básica de sobrevivência. Avançar lentamente pela estrada. Dar a conhecer a nossa intenção, deixar que o movimento se desvie de nós em vez de sermos nós a desviarmos dele. Passo a passo.
Ignorar as passadeiras. São inúteis. Para o trânsito da capital cambojana, são nódoas brancas que alguém apressado deixou cair no alcatrão cinzento. Sujidade.
Pnhom Penh tem voz própria e muda-a de acordo com a altura do dia. Estridente durante o dia. Buzinas e campainhas é uma forma de condução activamente praticada e parece não haver outra.
À noite, a cidade ronrona. As buzinas calam-se, recuperam forças para o dia seguinte e cedem as horas nocturnas aos motores as dois tempos da imensa fauna motorizada.


O dia a dia

Como qualquer turista, sou constantemente assediado pelos tuks tuks e pelos cyclos em busca permanente de passageiros.
Os cyclos são bicicletas - na verdade "tricicletas" - com rodas grandes. Uma sob o assento do condutor e mais duas sob o assento do passageiro.
Na frente tem um assento que transporta o passageiro, por vezes tem dois. 

Tento fugir deles e vou enveredando pelas ruas secundárias. Elas são sujas, às vezes imundas, mas vejo o dia a dia a desenrolar-se à frente dos meus olhos. É vivida em pleno passeio ou dentro das casas de janelas e portas abertas, sem segredos e sem nada esconder.
Vejo em acção barbeiros e vendedores de ocasião. Desvio-me das projecções dos soldadores e salto para o lado para me desviar das mangueiradas dos lavadores de carros. O cheiro das bancas de comida de rua, mistura-se com o cheiro das bancas de combustíveis que o vendem em pequenas garrafas de plástico de meio litro ou de litro.




As ruas são numeradas e reconhecem-se pelos seus ofícios. Algumas delas parecem especializadas. É o caso da Rua 104, rua de pequenos restaurantes e bares abertos até bastante tarde. Ou da Rua 240, rua das galerias de arte, lojas de seda, livrarias e artesanato de qualidade.

Eu estava hospedado na rua 178. É uma das mais conhecidas da capital. É a rua dos artistas. Desta vez os passeios estão transformados em galerias de arte. Telas, molduras, esculturas e baixos relevos estão espalhados no chão ou pendurados nas portas enquanto mãos hábeis e seguras lhes dão forma ou cor. Os motivos, quer sejam esculpidos ou pintados, são na essência o mesmo um pouco por todo o lado: os templos de Angkor, elefantes, budas, apsaras, búfalos de água e o cultivo do arroz. E monges budistas claro.
Estes talvez sejam o símbolo maior da cidade. São facilmente reconhecíveis. Trajam invariavelmente túnicas de cor laranja, usam cabelo rapado e sandálias. Vejo-os como pontos finais bem coloridos em frases cinzentas. Phnom Penh não prima pela cor, é monotonamente cinzenta.




O Museu Nacional do Camboja e o Monumento da Independência, ambos de cor bordeaux escuro a lembrar uma mancha de vinho tinto em toalha branca e o Palácio Real de fachada amarelada são os principais toques de cor desta cidade monocromática.


Sisowath Quay

A partir da rua 178, se caminharmos sempre em direcção ao rio chegamos ao "riverfront" - a Sisowath Quay.
A bonita marginal da cidade, uma das ruas mais movimentadas da cidade, é bordejada por dezenas de bandeiras de países dos cinco continentes do mundo. Sossego o meu patriotismo de ocasião, encontrando a bandeira portuguesa. Colocada ao contrário.
Com uma larga calçada, é a par do Parque Soviético e do Parque do Palácio, um dos sítios preferidos dos locais para passar o fim de tarde, particularmente aos fins de semana.
Nela, encontramos os melhores locais de Phnom Penh para apreciar o fim do dia e assistir ao pôr-do-sol.
As "happy hour" - entre as 17h e as 19h - que quase todos os bares da cidade promovem, são definitivamente as melhores horas para o fazer. Os cocktails e a cerveja caiem para metade do preço.
É por aqui e por estas horas, que os ocidentais, ou melhor, os não asiáticos se encontram.

O mais procurado, popular e frequentado é o conhecido FCC - Foreign Correspondents Club - com vários andares e decoração familiar para um ocidental.
À entrada, no lado direito, tem fotografias penduradas a relembrar o genocídio cambojano. No último andar, um terraço, tem-se uma vista privilegiada para a marginal e para o Tonle Sap.
É talvez o melhor lugar da cidade para assistir ao pôr-do-sol.




A outra opção, na mesma rua e exactamente do lado oposto ao FCC,  é o Riverstreet Restaurant.
Térreo, decoração sóbria, esplanada com cadeiras largas de vime com almofadas cor de vinho.
É mais sossegado e bastante menos ocidentalizado, é bom para arrumar os pensamentos, rever as fotografias tiradas e apreciar o entardecer.
Usualmente a minha opção.


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