Camboja - Phnom Penh (II)


Um dia em Phnom Penh

Saio para a rua sentindo o choque do calor e principalmente da humidade sufocantemente alta para as 08.00h da manhã. Algo a que teria que me habituar durante os dias seguintes.
Tomo o pequeno almoço na padaria habitual e peço igualmente o habitual. Um batido de café com leite condensado e gelo picado acompanhado de um crepe ou em alternativa um saboroso e muito ocidental croissant com chocolate.
Para esta manhã tenho planeado o Museu Nacional do Camboja e o Palácio Real, e para a tarde o Mercado Central
O Museu está situado na esquina da rua 178, onde estou hospedado, com a 13, muito próximo do Palácio Real e da minha padaria. Um bom alinhamento portanto.




Com uma cor muito particular, um bordeaux escuro bastante carregado, e entrada com vegetação luxuriante, este museu é uma excelente mistura de etnologia, arqueologia e religião (budismo).
Abrange a história cambojana desde o império Khmer pré Angkor (sec IV) até aos dias de hoje.
A ver com atenção uma vasta colecção de estátuas de Buda e a secção dedicada ao Mekong (Histórias do Mekong).
É um dos maiores rios do mundo e uma artéria vital do Camboja. Nasce na China, e cruza todo o sudeste asiático - Birmânia (actual Myanmar), Tailândia, Laos, Camboja e Vietname. Dele dependem cerca de 100 milhões de pessoas.
No seu interior, um pequeno pátio bem cuidado, com uma estátua de Buda rodeado por um pequeno lago.
De volta ao hall principal do museu, despeço-me das benditas ventoinhas que aliviam por uns minutos a humidade que perpassa pelas minhas costas e regresso ao zunir das buzinas.
Digo que não a um tuk tuk e parto em direcção Palácio Real.

Cruzo o tapete de relva verde do parque em frente ao Palácio Real à procura da sua entrada, e quando me preparava para displicentemente dar outro não a outro tuk tuk, o seu condutor informa "o Palácio está fechado". Eis uma informação que me interessava. Pergunto porquê e acrescentou que estava fechado porque o rei estava lá em cerimónia oficial. Teria que lá voltar mais tarde.
Rapidamente propôs os Killing Fields e Tuol Sleng. Eu já lá tinha estado, pelo que o não que tinha ficado em suspenso, foi dado na mesma.
Próximo estava o Hun Sen Park e o monumento da Amizade Camboja-Vietname. Erigido em finais de 70, em estilo soviético anos 30, celebra a amizade entre o Camboja e o Vietname.

Mostra dois soldados. Um vietnamita e outro cambojano, protegendo uma mulher que segura nos seus braços um bebé, símbolo dos civis cambojanos.
Este monumento já foi alvo de dois atentados: em Agosto de 1998 pegaram-lhe fogo com gasolina e em Julho de 2007 fizeram rebentar uma bomba na sua base. Amizade, amizade...




Almoço numa banca de rua. Salada, arroz frito com vegetais e um sumo de cana de açúcar. A senhora não falava uma única palavra de inglês, portanto falamos com os dedos. Cinco dedos levantados - 5000 riels (moeda local), o equivalente a dólar e meio. Espanto-me sempre com o quanto barato que se pode comer na rua.
"Não. Não Já lá estive ontem" respondi automaticamente a um tuk tuk. Vou a pé para o Mercado Central. E enquanto enveredo pela enorme profusão de pequenas ruas, confirmo meio divertido que para asiáticos, os cambojanos têm muito pouco os olhos em "bico".

Têm uma fisionomia que os diferencia do padrão clássico que um europeu tem dos asiáticos: pequenos, olhos rasgados, pele branca e cabelo preto. A sua tez é meio acastanhada, como se tratasse de um forte bronzeado, nos olhos domina o castanho e são bastante arredondados.




O cabelo sim esse é preto e bonito e realmente são de estatura mais baixa que a média ocidental. Mas desgraçadamente, nelas, vão aparecendo frequentemente cabelos com madeixas claras e cor de fogo, cabelos louros e castanhos. Sinais de uma ocidentalização plastificada e estereotipada.

As ruelas são efectivamente sujas. Por vezes com esgoto a céu aberto, elas estão cheias de pequenas poças e "carreiros" de água suja que correm junto ao lancil do passeio até serem absorvidos por um monte de pó ou folhas caídas, um papel absorvente deitado ao chão ou então extenuados param por si próprios. Ninguém está incomodado com isso, mas obriga-me a sucessivos jogos de pernas para os evitar.

Chego ao Mercado Central. Um edíficio redondo, com o exterior pintado no mesmo tom amarelado do Palácio Real e remates brancos, com uma abóbada.
Um corredor de pequenas lojas, todas elas debaixo de um toldo azul conduzem-me à entrada. Por sua vez na periferia, contornando o Mercado, uma miríade de bancadas vendendo o quer que seja. Perfeito para um turista sequioso de recordações.




O interior atrai. Geométrico e simétrico. Bem organizado. Só roupa e bugigangas. Em vez das bancas de pedra ou madeira de um mercado tradicional ou praça, aqui existem bancas metálicas com vitrinas iluminadas.
Vale a pena olhar para o alto, para a abóbada. Igualmente simétrica, simples, alta e pintada de um amarelo bastante torrado. Com janelas dispostas ao longo da sua curvatura, alinhadas verticalmente, por sua vez alinhada com os corredores de passagem.




Quem vende tenta a sua sorte, mas não de uma maneira excessivamente insistente.
Vale a pena perder um pouco de tempo por aqui. Na saída compro uma tela pequena. Negoceio o preço, mas no final a vendedora tem um sorriso largo. A tela tem um motivo clássico pintado com grossas, mas precisas, pinceladas pretas sob um fundo branco: búfalos de água no cultivo do arroz com um puto em cima de um dorso de um deles.

Faço o caminho de volta e regresso à Sisowath Quay. São cinco e meia da tarde e as "happy hour" já começaram. Tenho um encontro marcado com o entardecer e com uma "Angkor beer".
Não os quero fazer esperar.


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