África Oriental - o "puto" Rui


Através da sua identificação li que se chamava Rui. Cabelo curto, tez escura e sorriso profissional, nada espontâneo.
Parecia um puto. Quero dizer, um puto se compararmos com a idade média dos taxistas que me têm levado para o aeroporto.
Usualmente eles têm idade que rodam os cinquenta a sessenta anos. E a maior parte deles leva mais tempo de profissão que o "puto" Rui tinha de idade, digo eu. Calculei que talvez tivesse entrado recentemente na casa dos trinta anos.

Olhou para a mochila grande que estava no chão, passou para a outra que estava às minhas costas e com voz calma perguntou se era para o aeroporto. Confirmei o destino e entrei.
Arrancou em silêncio. Perguntei se aquela hora da manhã - eram 09.30h - era vulgar haver serviços para o aeroporto. Respondeu que sim. Silêncio. Perguntei-lhe de seguida se era taxista há muito tempo. Não. Insisti e perguntei-lhe a adivinhar: há um, dois anos? Desta vez uma resposta mais longa: Estudo e ajudo o meu pai nas horas da manhã quando não pode ir trabalhar. Que estuda? Gestão de Empresas. Silêncio de novo.
Desisti de tentar manter a conversa e desfrutei do conforto da carrinha C5. Estofos em pele, silenciosa, ar condicionado bem regulado, amortecedores suaves e confortáveis, vidros bem lavados e música da moda no rádio que me pareceu ser bom.
Nas próximas semanas iria estar bem longe de tudo aquilo.

Sabia que quando saísse da carrinha e fechasse a porta, quando voltasse a fazer aquele gesto seria para abrir uma pesada porta de um camião overland com suspensão elevada no continente africano.
Durante quase duas semanas e meia e cerca de dois mil e oitocentos quilómetros andaria permanentemente aos solavancos por estradas bem irregulares - a famosa "african massage" - pó por todo lado, bancos desconfortáveis com estofos de cor indefinida e bem roçados, sem música e quanto a ar condicionado nem senti-lo, só mesmo o que entrasse pelas janelas abertas do camião.

Para dizer a verdade estava desejoso de o fazer. Significava que África Oriental perfilava-se bem à frente dos meus olhos, pronta a ser calcorreada, pronta a ser vivida.


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