next stop - Vietname

Estava na altura de dizer aos meus colegas de trabalho. Eles sabem que por esta altura costumo ir de férias e as perguntas para onde vais desta vez já eram feitas por vários deles.Juntámo-nos à volta da grande bancada de tampo branco sujo, e olhei para eles com um ar propositadamente de fingida desolação.

 - Ok pessoal, é difícil dizer-vos isto, mas tem que ser... - Fiz uma pausa, desta vez com os meus olhos a fixarem-se no tampo e depois continuei.
 - Não queria ter que fazer isto, sinceramente preferia ficar aqui com vocês. Mas... obrigaram-me.
Sorrisos, já toda a gente sabia o que vinha a seguir
Com ar divertido disse - Na próxima sexta-feira vou de férias.

Em tom de brincadeira oiço o Mário do meu lado direito - Há boas vidas - e logo a seguir - Vai para o Cú de Judas como sempre?
De novo divertido respondo - Vietname.
Faz-se um breve silêncio e vejo sobrolhos levantados. Esperava isto.
O Vietname para muitos é e será sempre sinónimo de violência, guerra, mortos e selva.

O Anselmo que está mesmo à minha frente confirma o que pensava
- Só sabes ir para esses países?? Porque não Brasil, República Dominicana ou Cabo Verde? Esses sítios para onde vão as pessoas normais.

Percebo o seu ponto de vista. Para ele eu não sou uma pessoa normal. Os meus destinos usuais são todos  longínquos ou "problemáticos" com um passado violento ou então com episódios recentes de violência. Camboja, Egipto, Uganda e Ruanda.

Ele sabe a minha resposta. Já a tinha dado anteriormente. Gosto da aventura. Gosto de sentir o choque cultural e de sentir o aroma da diferença.
Não gosto de países muito batidos e cheios de turistas. Mesmo assim o Vietname já não é nenhuma novidade para quem viaja.

Descontraído e com as mãos nos bolsos, Fábio pergunta - Mas o que há de interessante para ver no Vietname?

O irmão mais novo do João tem uma empresa informática que desenvolve software para miúdos. Já foi algumas vezes para o sudeste asiático e conhece o Vietname. Por isso o João responde-lhe:
- O meu irmão já lá foi várias vezes e diz há muita coisa ver, que as pessoas são muito simpáticas e que o país é bonito e muito verde.

Pego na deixa do João e explico que a guerra já lá vai. O país é estável e tem muito para oferecer.
Falo do caos organizado do trânsito e da cacofonia das campainhas e buzinas de bicicletas e motoretas nas ruas.
Falo na beleza da Baía Halong, nos vastos campos de arroz e dos búfalos de água de cornos aerodinâmicos, dos chapéus cónicos dos camponeses, das paisagens de montanha, da artéria vital do sudeste asiático que é o rio Mekong, da gastronomia tão diferente da nossa, da religião budista e por último falo da simpatia e dos sorrisos tão característicos desta zona da Ásia.

Debruçada na bancada e com as mãos a apoiar o queixo, a Inês que tinha estado calada, mas atenta até ao momento, pergunta:
- Então e qual vai ser o próximo destino?
Abro os meus olhos, encolho os ombros e respondo:
- Não sei. Primeiro tenho que chegar, depois é que penso em partir.

É sempre assim que enfrento o retorno de uma viagem. É preciso chegar para depois poder partir de novo.

Visitar este país do sudeste asiático, o Vietname, é um desejo meu desde há algum tempo. Já tinha estado perto, no Camboja em 2010. Agora chegou a sua vez.





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