Inglaterra, Londres - o Centro do Mundo


No plano de voos até Hanoi, capital vietnamita, se levantasse cedo e apanhasse o primeiro avião de Lisboa para Londres, poderia fazer uma escala de onze horas na capital do Reino Unido.
A ideia era dar uma rapidinha na capital inglesa.

Mas foi menos que isso. As tais onze horas reduziriam-se para quase metade.
Primeiro porque o avião partiu de Lisboa com um atraso de uma hora, depois precisei de mais uma hora para chegar a Piccadilly Circus, mais outra hora para regressar ao aeroporto e ainda tinha que acrescentar mais as duas horas recomendadas de antecedência para fazer o check in.

Há mais de doze anos que não ia a Londres e queria fazer daquelas poucas horas um circuito de clássicos.
Um desses sítios onde queria regressar como um filho pródigo que volta a sua casa, era onde se situa o centro do mundo para os londrinos, Piccadilly Circus.

Tinha uma grande vantagem. A linha do terminal do aeroporto Heathrow para Piccadilly Circus era a mesma e homónima, a linha Piccadilly. Não precisava de perder tempo a trocar linhas e esperar por mais metros.


Na chegada a aeroporto de Heathrow e a descer para o metro londrino, o famoso tube, dei de caras com uma multidão na estação.
Todas as máquinas de bilhetes e as próprias bilheteiras e o espaço circundante estavam apinhadas de gente. À minha volta ouvia e via línguas e rostos de todo o lado.

Um grupo de três ruidoso australianos com as bandeiras do seu país cosidas nas mochilas, uma rapariga alemã gritava para uma amiga que estava noutro ponto da estação, um pequeno grupo de cinco coreanos com bonés e troleys iguais estavam parados e indiferentes à multidão à sua volta, formavam um circulo enquanto que um sexto estava nas filas das bilheteiras, uma rapariga de cabelo louro, quase branco, absorta a conferir o troco numa mão enquanto na outra segurava um passaporte polaco e o bilhete de metro, dava-me um encontrão e soltava um automático "sorry".
É o que me agrada nas metrópoles, a multiculturalidade de quem passa ou vive por lá. A sensação que realmente somos cidadãos do mundo e não apenas de um único país.

Entretanto um assistente do tube londrino olhando para mim, percebe que estava a tentar organizar-me na confusão da estação, coloca-se ao meu lado e pergunta - Sir, can I help you?
Balbucio um - Yes, dizendo-lhe que a estação estava um caos, cheia de gente, ruidosa. Pergunto-lhe o que seria mais rápido, as máquinas de venda dos bilhetes ou as bilheteiras.
Naquele sotaque very british, John de acordo com a identificação colocada no seu colete reflector, lamenta aquela confusão e informa que na linha férrea tinha havido um suicídio e a circulação de comboios estava parada há três horas.

Todas as pessoas estavam a ser desviadas para o metro o que explicava a enorme quantidade de gente que estava na estação de metro.
Com o braço sugeriu as máquinas de bilhetes, acrescentando que estas eram mais rápidas a dar troco. Foi o que fiz. Por oito libras e meia comprei um passe de um dia, um "Day Travelcard". Iria valer bem o seu preço.


Uma hora depois de ter entrado no metro estava a olhar para cima, para a estátua de Anteros que está no topo da fonte de Piccadilly Circus - um memorial dedicado ao filantropo Lord Shaftesbury erigido em 1893 e desenhada pelo inglês Alfred Gilbert - e a esbarrar em toda a gente.

Aqui parece ser comum e generalizada a confusão e com origem popular. A estátua do arqueiro alado é de Anteros e não do seu irmão Eros.




A confusão resulta de Eros (deus do amor) ser mais conhecido e popular que Anteros. O primeiro pela sua fama, eclipsa o segundo que anda na sombra do irmão.
Se Eros representa o amor sexual, imaturo, impetuoso e até frívolo, a Anteros (anti-Eros) está associado o amor maduro, reflectido e retribuído.
Noutras versões, Anteros surge como alguém que provoca a desordem, a desunião, a separação.
A história destes dois irmãos alados da mitologia grega é interessante.


À parte confusões e respectivos argumentos e contra-argumentos sobre quem a estátua representa, não deixa de ser um facto. Esta pequena praça, quase acanhada, fervilha de actividade.
Subi os curtos dois lanços de escadas até chegar ao topo do centro do mundo. Dei a volta lentamente, quase em câmara lenta.
Vi grandes ecrãs e anúncios de cores vivas, teatros, museus, lojas de roupa, bares, estações de metro em cada uma das ruas que confluem para ela e um movimento constante de pessoas e de carros.

Depois sentei-me nas escadas ainda um pouco húmidas de um aguaceiro recente e olhei de novo à minha volta.
Vi pessoas a passarem ocupadas. Jornaleiros que levavam empilhadas nos seu braços as notícias frescas do dia, funcionários de limpeza a empurrarem carros de mão e mães que empurravam carrinhos de bebé  Havia pessoas que falavam, telefonavam ou mandavam sms, pessoas com mapas abertos que se orientavam para darem o passo seguinte e pessoas que pediam orientações para dar esse passo.




Outras como eu, paravam no centro do mundo, para ver o centro do mundo a circular.
Paradas para abrandar o seu próprio tempo vendo o dos outros ou, para eternizá-lo num clic de uma máquina fotográfica ou de um telemóvel.

Espectadores dos e de momentos. Ver, sentir o ruidoso e activo pulsar da vida em Piccadilly Circus.
Milhares de rotinas diárias a passarem pelos meus olhos.




Cirandei por aqui cerca de uma hora. Depois parti para o meu segundo high light - London Eye.



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