Inglaterra, Londres - o Olho de Londres


Para aproveitar bem as seis horinhas que tinha em Londres precisava de postais.
E se o primeiro, Piccadily Circus, era um regresso desejado, o segundo, London Eye, era uma novidade que não queria falhar.

Mais uma vez estava bem alinhado. De Piccadily Circus, na linha azul, era directo para a estação Waterloo na linha castanha, Bakerloo. Mudo de linha mas não de estação. Fixe.
Confirmei na bilheteira a informação do meu guia. Para o London Eye a estação mais próxima era efectivamente Waterloo.
Simpático - sim os ingleses são uns porreiraços - disse-me que se comprasse na estação o bilhete de entrada para o Olho de Londres, este saía mais barato do que comprado no local, não perdia tanto tempo nas filas e por pouco mais, que era menos, ainda tinha direito à atracção 4D.
- Really?? Cool. I'll take it.

À saída da estação não havia quase ninguém nas imediações. Sendo a estação que estava mais perto, não ver quase ninguém causou-me uma certa apreensão.

Com o céu "londrinamente" fechado a sete chaves de cinzento, pedi informações para lá chegar.




Quando vi a roda gigante pela primeira vez causou-me um certo respeito.
Com 135m de altura, a terceira maior roda gigante do mundo - apenas ultrapassada pela Star of Nanchang na China e pela Singapore Flyer em Singapura - é uma estrutura imponente e as minhas expectativas aumentaram com a sua visão.
Foi construída para marcar a passagem do milénio, tal como a Torre Eiffel, também estava a prazo. No entanto o sucesso e a procura que teve garantiram-lhe a sobrevivência.

À medida que caminhava pela pequena avenida ladeada de árvores que nos conduz até lá, o número de pessoas aumentava claramente e o tamanho do London Eye aumentava igualmente.
Inclinei a minha cabeça bem para cima e olhei-a. Parecia uma roda de bicicleta em tamanho king size.




As filas eram longas e havia pessoas por todo o lado. Dirigi-me para elas e quando mostrei o bilhete mandaram-me para um outro edifício, um pouco afastado da grande roda, para a experiência 4D.
Confusão. Filas desordenadas, grande burburinho, pessoas que não sabiam para onde se dirigir ou que então esperavam nas filas erradas.

A experiência 4D não vale o trabalho. É um simples e relativamente pouco imaginativo filme 3D ao qual se junta a tal quarta dimensão, a sensorial. Brisas nos cabelos a simular o vento, os salpicos de água na cara quando se trata de chuva, uma espécie de espuma para mostrar corresponder à neve do filme e uma tentativa de recriar o cheiro do fogo de artificio na passagem de ano.
Tudo isto em quatro breves minutos.


Voltei às filas. Cá fora o cinzento carregado do céu tinha aliviado e já se via uns extensos rasgos azuis. Chegou a minha vez de entrar numa das 32 cápsulas que constituem o London Eye.
Cada uma delas representa os 32 distritos de Londres, mas elas estão numeradas até número 33. Mas se procurarmos a cápsula nº 13 não a encontramos. Por superstição a cápsula azarada foi retirada da numeração.

São cerca de 30 minutos a volta completa. Ao longo de toda a volta, as vistas de Londres são obviamente bonitas com o Tamisa a dominar a paisagem. Em cada umas cápsulas há dois tablets Galaxy da Samsung que se estiverem a funcionar - na minha, só um funcionava - permitem identificar o que se vai vendo durante esse tempo.




O London Eye acaba por ser interessante mas não fascinante. Mas é uma atracção que deve ser vista. Um carimbo quase obrigatório para quem visita a Londres.
Mas para o tempo que se perde e quando este é curto é algo que se deve pensar duas vezes antes de se repetir a dose. Num eventual meu regresso a Londres, não fará parte do meu futuro roteiro.

Mesmo ali ao lado e a poucos minutos a pé estava a esverdeada Westminster Bridge que liga as margens norte e sul do rio Tamisa e simultâneamente dois ícones de Londres: a roda gigante e o Palácio de Westminster.
Movimentada e com uns curtos duzentos e cinquenta metros de comprimento, ela proporciona uma bonita visão do Olho de Londres muito bem enquadrado nas margens do Tamisa.




Enquanto a travessava, um escocês balofo de rosto rubicundo farto bigode e cabelo ruivo cumprimentou-me com um meneio de cabeça.
Vestia um kilt amarelo torrado, camisa branca, colete preto, longas e grossas meias cinzentas escuras quase até ao joelho e na cintura um sporran tosco. Tentava sem grande sucesso atrair as atenções de quem passava tocando uma desafinada gaita de foles, fazendo-a soar como uma irritante cana rachada.
A pequena mala pousada no chão forrada de tecido vermelho e preto axadrezado espelhava o seu insucesso e estava previsivelmente quase vazia. Numa olhadela rápida calculei que cerca de uma dúzia de moedas estariam lá dentro.

À sua volta, espalhadas ao longo do tabuleiro da ponte e com bem mais sucesso estavam três grupos de três pessoas - que ao contrário da mala do pobre escocês, tinham os bolsos cheios de notas - agachadas no chão que com o jogo da vermelhinha conseguiam despertar e manter o interesse do pessoal.
Também pareciam fardados. Todos eles com calças de ganga azuis, sapatos pretos, camisas por fora das calças e casacos de cabedal pretos. Com olhos claros, cabelos curtos e de franja, se estivesse em Portugal diria que eram ucranianos. Falavam muito rápido e atraiam com gestos as pessoas que passavam perto.
Uns tinham as típicas cartas de jogar, duas pretas e uma vermelha, outros com a variante de três caixas de fósforos e uma bola.
O objectivo é o mesmo. Ao fim de vários movimentos muitos rápidos e habilidosamente subtis, tenta-se adivinhar, apostando, onde se encontra a carta vermelha ou em caixa está escondida a bola. Invariavelmente perde-se e invariavelmente perde-se o dinheiro apostado.
A vontade de voltar a tentar adivinhar, aquele desejo do "agora é que é" ou "desta vez ele não me engana" mantém os olhos postos na vermelhinha e o dinheiro a fluir para os bolso de quem recebe as apostas.

Cheguei ao outro lado da ponte. Bem em frente aos meus olhos com os seus altos 96.3m, estava a antiga Tower Clock do Palácio de Westminster, agora chamada Elizabeth Tower. Foi rebaptizada em Setembro de 2012 para celebrar os sessenta anos do reinado de Elizabeth II.
No seu interior encontra-se o famoso Big Ben, o sino fundido em em 1858 por George Mears e que pesa mais de treze toneladas.
Deve o seu nome ao alto e corpulento ministro das obras públicas Benjamin Hall da altura em que o sino foi instalado e tinha por alcunha Big Ben.

Tirei a fotografia da praxe à torre e atravessei de novo a ponte, o recinto do London Eye e regressei à estação de Waterloo. Estava na hora do meu terceiro e último postal de Londres.
A emblemática Trafalgar Square e o museu National Gallery.




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