Noruega - o primeiro nórdico


Era algo que desejava há bastante tempo. Visitar um país nórdico no Inverno. 
Aliás, pessoalmente, e talvez de uma maneira muito redutora, só faz sentido viajar para o longínquo norte da Europa no Inverno
Noruega foi o primeiro país. O que me tinha levado até ele, foi a possibilidade de eventualmente ver auroras boreais e um colega meu que vivia lá que me propôs que lá fosse.

Como qualquer pessoa que pense em países nórdicos, particularmente no Inverno, a ideia que vem de imediato à cabeça, a preocupação maior, é o frio. 

Vento, nevões e frio. Intenso, de estalar os dentes, um frio que não permite ver nada porque vive-se quase exclusivamente no piso radiante de um quarto bem aquecido num hotel porque gela-se o nariz assim que se espreita pela janela.
A primeira parte deste parágrafo eu queria sentir e viver em primeira mão e não seria de todo um problema, a parte final, sim, mas só à noite.

Março parecia ser uma excelente hipótese de compromisso, apesar de diminuir bastante as possibilidades de assistir às mágicas Luzes do Norte.




Estava longe de ser o standard de uma mulher nórdica.
Baixa, cabelo escuro, quase preto e olhos castanhos. Sorriso tão automático quanto as suas respostas.

- Para Oslo por favor. Quanto custa e já agora qual é a linha?
- Estação que deseja é Oslo S. Tem duas hipóteses. O regional que demora cerca de 40 minutos ou o expresso que é metade do tempo.
Acrescentou apontando com a cabeça:
- A linha é a que está imediatamente à sua esquerda.
Olhei para a esquerda e confirmei.
- O expresso são 90 coroas, o regional são 40. Qual vai desejar?
Queria poupar e ao mesmo tempo passar o mais tempo possível dentro do comboio.
- O regional por favor. Quantas estações são até Oslo S?
- É a última a estação da linha
Paguei, deu-me o troco e ficou à espera que viesse outro passageiro.


Desci pelas escadas rolantes até à plataforma. E senti aquilo que estava à espera.
Aquele abraço não excessivamente frio que um país nórdico pode oferecer no seu Inverno tardio. Por baixo do relógio que informava que já passavam das 15h, um termómetro marcava -3º.
Entre -3º a - 7º eram as temperaturas máximas previstas para os dias em que estaria em Oslo.
Sorri para o termómetro. Sentia-me confortável naquela temperatura. Estava como peixe na água. 
Um frio agradável na pele, os pulmões a receberem aquele ar fresco e os olhos pousados no horizonte que parecia desenhando a preto e branco.

Os carris rasgavam de negro o branco tapete de neve onde eles pousavam. Duas elegantes e finas serpentes negras deslocando-se e curvando-se ao mesmo tempo.
As árvores ajudavam ao preto e branco da paisagem. Troncos negros e ramos com algumas folhas cobertas de neve contrastavam entre si e com a paisagem. 

Poucas pessoas estavam na plataforma. Dois homens liam o jornal, um jovem tinha headphones nos ouvidos e uma rapariga passava os dedos pelo tablet também ele branco como neve. Uma cor apropriada para aquele dia branco de algodão. Nenhum deles dava sinais de estar com frio.
Tinha dez minutos até à chegada do regional. Encostei-me a um pilar de frente para os carris negros. Fechei os olhos por uns momentos. Inspirei profundamente saboreando aquele ar límpido e fresco. Com o espírito e pulmões lavados esperei que ele chegasse.

Oslo S.
Saí pelas traseiras da estação. Após dois lanços de escadas, passa-se por uma enorme pantera esculpida em bronze. Elegante, muito felina. Não nos saudava, mas também não era particularmente ameaçadora. Talvez apenas incomodada pela presença de quem andava por ali e por quem posava ao lado dela para uma fotografia que a desrespeitava. Um “chega para lá” parado no tempo.




O chão estava perigosamente escorregadio.
Um misto de gelo e neve derretida, formava poças acastanhadas de lama que forravam o piso, onde os pés tanto chapinhavam como escorregavam.

Talvez duzentos metros depois estava no hotel. Mochila para cima da cama, mudança de roupa para algo mais quente e fui directo para a Opera House de Oslo, no porto de Bjorvika.
Mesmo próximo do hotel. Atravessava meia dúzia de ruas e tinha-a de frente para mim.

Pela sua beleza, elegância e proximidade do hotel era aqui que iria fechar os dias em Oslo, até que as temperaturas e a luz baixassem a um ponto que tornasse o hotel um sítio acolhedor.




Em frente ao Fiorde de Oslo e olhando de frente a cidade, a Opera House é um clássico exemplo da arquitectura nórdica. Inspirado num iceberg, a sua superfície é de um branco imaculado obtido utilizando granito branco e mármore também branco vindo de Carrara,
Grandes superfícies envidraçadas, virado para o porto e desenhado de uma forma minimal. Traços simples, rápidos e desenvolto.
Linhas rectas, diagonais e planos inclinados que se intersectam entre si formando varandas para o rio e para a parte circundante da cidade.

A sua cor, quando sol bate nas suas faces, é de um branco resplandecente. As suas formas em dias de neve confundem-se na sua base e quando o sol se põe, ou em dias cinzentos, reflecte as suas cores como um camaleão que se mimetiza fazendo ele próprio parte da paisagem que o rodeia.

A água do porto estava gelada. Uma fina película de gelo, estalada aqui e ali, desenhava grosseiramente as sombras de quem lá passava. No entanto, insistia em não devolver os pensamentos atirados para lá, de quem como eu ficava a olhar sem ver aquela película prateada de final do dia.

O pôr do sol, da varanda superior, não era algo de espectacular, porque ficava um pouco tapado por um conjunto de edifícios simétricos, mas como todos os pores-do-sol era suficientemente bonito para aguentar as temperaturas que baixavam mais rapidamente que o sol atrás deles.

Quer seja a falar, ler ou escrever a palavra Oslo, é sempre para aqui venho parar.





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