Irão, Islão - xiitas, sunitas e o Califado do Rashidun

Sunitas e Xiitas. É um conflito, uma divisão que dura há mais de catorze séculos.
Estas duas correntes dividem violentamente, apesar de ao longo do tempo nem sempre ter sido assim, a religião islâmica.
O que difere entre eles é "só" quem é o sucessor do Profeta Maomé.

Quando Maomé morre em Junho de 632, não deixou descendência, nem deu indicações de quem seria o seu sucessor, o califa (halifa em árabe). Esta é a questão basilar, que se mantém nos dias de hoje, que levou à divisão do Islão em duas facções: os Xiitas e os Sunitas.

Para os Xiitas, a resposta era simples. O sucessor deveria vir da família do Profeta.
Para estes o nome era óbvio: Ali Ibn Abu Talib, primo e genro de Maomé. Se Deus (Alá) elegeu o Profeta Maomé para divulgar o Corão, então os seus sucessores, deveriam, na lógica xiita, vir da linhagem escolhida por Deus.
Os Sunitas eram contra esta proposta. Os muçulmanos deveriam ser livres de escolher o califa.
Para os sunitas, o sucessor natural de Maomé, pela sua proximidade, seria Abu Bakr. E foi o que aconteceu.


Os trinta anos que decorreram desde o ano da morte de Maomé em 632, até à morte do seu primo, Ali Ibn Abu Talib, em 661, foram talvez os mais decisivos na história do Islão. Quatro califas seriam eleitos nestas três décadas.
Se Maomé uniu em torno de si as diversas tribos árabes, estes quatro homens através das campanhas militares, foram determinantes na forma como o Islão se espalhou geograficamente, como se consolidou e se impôs como religião, como iriam influenciar as trocas comerciais entre o que é hoje o médio oriente e a Europa, e dar origem à primeira grande cisão entre muçulmanos, a primeira Fitna.
Este período é conhecido historicamente pelo Período dos Quatro Califas, ou o Califado Rashidun.

O primeiro dos quatro califas foi Abu Bakr. Teve um califado curto, mas relevante, de dois anos. De 632 a 634.
É considerado o primeiro homem a ser convertido ao Islão e portanto um homem muito próximo do Profeta e que o acompanhou na Hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, tendo colocado toda a sua fortuna ao dispor do Islão. Por este conjunto de factores é ele o primeiro sucessor de Maomé, o primeiro califa, ao contrário do que os xiitas desejavam.
Nestes dois anos ele manteve a união das tribos árabes e aumentou, através de conquistas, vários estados para o Islão.
No seu leito de morte, Abu recompensa um companheiro e conselheiro que sempre lhe foi fiel: Omar ibn al-Khattab e designa-o como o seu sucessor.

Omar ibn al-Khattab terá um califado que durará dez anos - 634 a 644. Desde o início que a sua escolha é polémica.
Começou por ser um feroz inimigo do Islão, apesar da sua conversão e ter sido um dos califas mais influentes na divulgação do islamismo, este facto nunca foi esquecido e muita gente nutria rancores por isso.
Caracterizava-se por ser um homem violento e cruel e terá sido por isso que foi assassinado às mãos de um escravo persa.
De novo, é com este califa que o império islâmico se expande significativamente. Sobre a sua alçada, o império persa, bizantino e o Egipto caiem na influência islâmica.
É quem cria o calendário islâmico ao definir o ano da Hégira, como o marco do novo calendário muçulmano que vigora actualmente.
A ele sucede, por eleição em conselho (Shura) de seis membros, o terceiro califa, Uthman.

Uthman ibn Affan pertencia ao clã omíada e não era um homem particularmente conhecido pelos feitos militares ou pelo seu carisma. Era reconhecido pela sua capacidade de mediação e particularmente por ser um rico e influente comerciante.
Sob o seu governo de 644 a 656, mudanças significativas iriam acontecer.
Abrandamento das conquistas territoriais, reforço das trocas comerciais e o estabelecimento de um Corão único e oficial.
Mas seria o desvio de parte significativa do tesouro central, já significativamente depauperado pela diminuição de conquistas de territórios e consequente diminuição de fonte de receitas por via fiscal, para a sua família, em detrimento do exército e populações que iria causar a sua perda.
Surgiram várias revoltas e numa delas o califa Uthman foi assassinado.

Finalmente, e como os xiitas desejavam, após 24 anos sobre a morte do Profeta Maomé, Ali Ibn Abu Talib da família do Profeta, e no próprio dia da morte de Uthman, torna-se califa entre 656 a 661. Dos quatro, Ali foi o mais político e também o mais guerreiro.
A chegada ao poder de Ali, desagradou fortemente os que caminhavam ao lado Maomé. Entre estes destaca-se Moawiyah, o governador da Síria e primo de Uthman.
Havia a convicção entre os companheiros de Uthman que foi Ali que instigou as revoltas que conduziriam à sua morte.
Em 657 os exércitos de Moawiyah e de Ali defrontaram-se na batalha de Siffin sem que houvesse um vencedor declarado.
Moawiyah propôs que houvesse uma arbitragem para a decisão do vencedor. Parte dos apoiantes de Ali não aceitaram esta proposta e afastaram-se. Os fieis a Ali e que aceitaram esta mediação queriam que fosse este a liderar os muçulmanos, tornaram-se xiitas.
Com o assasinato de Ali, em 661, acaba o período Rashidun.

Mas verdadeira cisão dos muçulmanos ainda estaria para acontecer.
Após a morte de Ali foi assassinado, Mowiyah, o primo de Uthman, tornou-se o quinto califa, dando origem a uma dinastia sunita, a Omíada, da qual Uthman foi o seu fundador.
Revoltados, os xiitas que defendiam que deveria o ser o filho de Ali e de Fatima, filha de Maomé, Husseyn que deveria ser o sucessor de Ali e portanto ser líder supremo dos Muçulmanos.
Husseyn liderou um exército contra Mowiyah que perdeu e morreu nela.
A dinastia sunita moveu uma guerra contra os sucessores de Husseyn, os imãs, que os consideravam uma ameaça aos sunitas.
Sucedendo a Husseyn, o imã Já’far al-Sadiq pediu aos xiitas, que escondessem a sua fé, para a poder preservar.

A divisão entre xiitas e sunitas, estava consolidada. Há catorze séculos que esta divisão se mantém, até aos dias de hoje.
O Irão é a potência dos primeiros, a Arábia Saudita, a dos segundos.
Apesar de estarem em paz, há uma tensão permanente entre estes dois países. 




Comentários

  1. Não conhecia as diferenças entre Xiitas e Sunitas. Confesso que já poderia ter pesquisado mas muitas vezes prevalece a preguiça:(
    Sendo as causas da divisão as que referes, penso que o mais provável é que se mantenham por bastante tempo. Ninguém vai abdicar do que julga "certo".

    Obrigada pelo post. Reafirmo, é sempre bom vir aqui porque se aprende.
    Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já duram há cerca de 1400 anos, certamente que irão durar mais outros tantos... :)

      Eliminar

Enviar um comentário