Adis Abeba, Etiópia - Adis

Duas palavras ir-se-iam colar à minha pele desde o primeiro momento que cheguei à Etiópia, até ao último dia: Farenji e Injera.

Farenji é uma palavra implicitamente cara. Farenji significa, não necessariamente alguém branco, mas sim estrangeiro. Na prática significa um saco de dinheiro. O quer quer seja que se pague na Etiópia, os farenji pagarão sempre mais. O único refúgio serão os preços previamente tabelados.

Injera é a base de quase toda a alimentação etíope. Faz uma lembrar panqueca esponjosa em forma de piza, de cor escura, que se enrola facilmente, tipo mortalha de um cigarro.
É um prato que se come. Nesta base de injera, é colocado, o quer que se pretenda de acompanhamentos. Usualmente vegetais cozidos: legumes, feijão, lentilhas, batata doce.

Adis Abeba, capital da Etiópia, é a quarta maior cidade de África.
Rapidamente percebi que há um certo carinho internacional por esta cidade. Tratam-na por Adis. Raramente se menciona a cidade pelo seu nome completo.

Tudo passa por Adis. O centro nevrálgico politico e económico do país.
Passam as importações e exportações do país, e o é centro distribuidor do mercado interno.
Para além de exportar "corredores de longa distância", o café, é de longe a sua principal exportação. O café etíope é um dos mais procurados do mundo.





Exportam igualmente tabaco, e surpreendentemente o comércio de flores, devido à presença de holandeses, tem vindo a crescer fortemente.

O primeiro impacto quebra o mito da pobreza e e do subdesenvolvimento do país. Mesmo sabendo que uma capital é uma cidade atípica relativamente às restantes cidades mais mergulhadas no interior, esta constitui no entanto, uma imagem razoavelmente fiel do restante pais. Um país em desenvolvimento, com rápido crescimento económico. 

Se pensarmos que três dos países vizinhos da Etiópia, estão longe de serem politicamente e socialmente estáveis: Somália, Quénia e o Sudão, os restantes são mais pacíficos, Djibouti e a Eritreia, se bem que neste último país por questões históricas, existe nesta fronteira uma tensão constante e um conflito adormecido, a Etiópia é um país que está em paz e pacificado.

Adis Abeba congrega em si toda a diplomacia do continente africano. 
A União Africana está sediada aqui. Ela representa todo o continente africano, cerca de cinquenta e quatro países. Está pensada à semelhança da União Europeia, não havendo no entanto uma moeda única.




Adis Abeba está ruidosamente a espreguiçar-se.
Depois de um longo tempo de adormecimento, a cidade estica-se por todo o lado. Existe uma fúria incontrolável de construção. Buracos, ruas rasgadas, muito pó, barulheira, pedras nas estradas, pedras nos passeios e taipais de zinco pintados com faixas verticais amarelas e azuis.
Há camiões por todo o lado. Adis Abeba é um completo estaleiro de obras.








Tudo cresce nesta cidade: hotéis, estradas, escritórios, centros comerciais. O quer que se imagine que seja construível, está a acontecer por aqui.
A capital etíope espelha em si, o desenvolvimento e o crescimento que a Etiópia está a passar: rápido e caótico.

Na recepção, a menina Abey diz-me que a cidade está a evoluir, que está a preparar-se para receber o metro.
- Brevemente seremos como Nairobi,
Arrepiei-me. Nairobi é das cidades mais degradáveis que conheço. É uma das capitais onde senti insegurança no ar. A outra é a centro-americana São Salvador.
Espero bem que tal não aconteça.
É que ao contrário da imagem enraizada no ocidente, Adis Abeba é uma cidade segura.
Talvez pela presença de militares armados que se avistam discretamente, aqui e ali, um pouco por todo o lado.

Como qualquer cidade que está a desenvolver-se rapidamente, Adis Abeba está fortemente contrastada, desequilibrada e caótica. Tem as suas dores de crescimento.
Hotéis construídos à pressa, plantado no primeiro sítio disponível e outros planeados. Encontram-se construções verticais ao estilo ocidental, e ao lado, barracos com esgotos abertos. Homens de negócios de fato e pessoas andrajosas.


Para além da urbana vivacidade poeirenta, a cidade tem dois grandes trunfos: um escondido, o ethio-jazz, e outro bem conhecido, e o esqueleto de Lucy.

Jazzamba, é a referência jazzistica, como os clubes nova iorquinos, Vilage Vanguard ou o Smalls, de Adis Abeba,
É o mais conhecido club de jazz da cidade. Aqui vêm tocar músicos consagradas e outros tentar a abrir uma nesga da porta da fama.
Aqui pode-se ouvir, o ethio-jazz. Uma fusão de jazz ocidental com os ritmos etíopes e africanos, que foram cunhados pela lenda viva Mulatu Astatké.
Todas as noites há concertos de jazz, mas pelo sim e pelo não, confirmar com o hotel o concerto e se há lugares disponíveis.

Apanhar um tuk tuk, dizer Jazzamba e pouco minutos estamos lá. A bilheteira é cá fora, onde uma senhora anafada em modo automático deita cá para fora, os bilhetes pedidos.
Lá dentro é o que se espera de um club jazz. Ambiente escurecido, fumo, copos a circularem, pessoas de um lado para o outro. Para não fãs do jazz, o contacto com o ethio-jazz numa ida ao Jazzamba é uma experiência imperdível.


No Museu Nacional da Etiópia encontra-se a Lucy.
É esqueleto de uma australopitecos - macaco do sul - mais antigo que se conhece.
Dele restam apenas umas dezenas de ossos, os que estão expostos são réplicas, com cerca de um metro de altura, entre os 14 e 15 anos que talvez pesasse aproximadamente 50 kg.




Lucy foi descoberta em 1974, na região etíope de Afar, na vila Hadar, e terá vivido há cerca de 3.2 milhões de anos.
Caminhavam erectos, eram bípedes, usavam utensílios e os seus braços era maiores que as pernas, estando ainda muito adaptados muito adaptados à vida nas árvores. Dominaram o planeta durante mais de três milhões de anos.

A avozinha Lucy, pela qual nutro um grande respeito e carinho e apesar de não o ser, por pertencer a um ramo evolutivo, entre vários outros, que se extinguiu por ter resultado num beco sem saída, penso nela como a avozinha de todos nós.
O Homo Sapiens, não descende deste ramo. É um ramo independente, com uma evolução distinta, o ramo "homo". Lucy pertence ao ramo "macaca".
No entanto, teorias recentes admitem que o Homo Sapiens e os Australopitecos terão coexistido, e até terem-se cruzado entre si, mas que a extinção do segundo terá sido causado por diversos motivos, nomeadamente confrontos, perseguições e competição na cadeia alimentar com o primeiro.

Curiosamente, os autralopitecus andaram à face da Terra durante cerca de quatro milhões anos, enquanto nós, os Homo Sapiens, andamos há cerca de duzentos mil anos.
Mal chegámos e começámos de imediato a fazer estragos no planeta.






Adis Abeba não é uma cidade particularmente interessante.
Quem chega à Etiópia está de partida para o sul tribal ou para o norte cultural. O tempo de permanência é breve. Isso explica a pequena quantidade de turistas presentes em Adis.
Mas ela merece um olhar atento. Falhar esta cidade, caótica, imersa em pó, quer no ar, quer no chão, amigável e até divertida, é um erro.




Comentários

  1. "Como qualquer cidade que está a desenvolver-se rapidamente, Adis Abeba está fortemente contrastada, desequilibrada e caótica. Tem as suas dores de crescimento."

    E normalmente essas dores são demoradas! O progresso tem sempre duas faces na minha opinião.
    As fotos são bem elucidativas do caos nas ruas. Nunca vi tanta pedra e tanta poeira por metro quadrado:))))

    Gostei de reencontrar a Lucy já que a "conheci" através de ti. E gostei de ter aprendido um pouco mais.

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