série "Rostos do meu Rosto" - XII

O que poderá existir de mais simples, mais complexo, mais óbvio e mais profundo que um retrato?

Charles Baudelaire


Em 2012, no dia dos Mortos, estava em Sucre, uma pacata e bonita cidade colonial boliviana situada no sul do país.
Fui ao cemitério ver como este dia era vivido e como em quase toda a América do Sul e Latina, ele é profundamente ritualizado.

Na entrada do cemitério estava colocada uma grande mesa e por cima dela as pessoas colocavam os pratos preferidos dos mortos e ao seu lado a bebida que estes mais gostavam de beber.
Havia arcos de papel de cor púrpura e roxa, representando a fronteira entre o céu e a terra, e pães com o formato de escadas e escadotes para que as almas do que tinham partido pudessem descer (e depois subir) do céu e comer os pratos que tinham sido propositadamente cozinhados para eles.
Os bolivianos fazem exactamente o mesmo. Estes altares, com os mesmos símbolos, são montados e são retirados dois ou três dias depois.

Dentro do cemitério havia cegos sentados nos bancos ou próximos dos túmulos, que cantavam ladainhas sem cessar e seguravam nas suas mãos terços, rosários, santos e fotografias de pessoas.
Mais tarde vim a saber que eles eram pagos pelas famílias dos mortos para rezarem e orarem pelas suas almas. A razão porque o faziam, era que estas pessoas, por serem cegas, não se distraiam com o que se passava à sua volta, logo as suas orações chegavam mais depressa aos céus, a Deus.

É uma imagem de un desses cegos do cemitério de Sucre que abre esta sequência de Rostos do meu Rosto.


Sucre, Bolívia


Udaipur, Índia


Dambulla, Sri Lanka


Don Det, Laos


Wadi Mujib, Jordânia




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