Mirissa, Sri Lanka - dez anos, algumas histórias

Sri Lanka, Outubro 2017


Metadados

Assistir e fotografar o pôr do sol em plena praia, em Mirissa. Depois enrolar cuidadosamente a câmara na toalha para a proteger da areia e da humidade da noite que caía sobre a praia e mergulhar nas águas quentes e macias do Índico.
Talvez umas duas horas dentro de água até que finalmente saio dela. Chego à toalha e a câmara tinha desaparecido. Roubada!
Um baque tremendo, uma sensação incrédula e um olhar rápido a toda a minha volta ao longo da praia. Ninguém, obviamente.

Será que ao menos me devolvem os cartões de memória? Foi o meu pensamento imediato.
A câmara e a lente compram-se mas não o conteúdo dos cartões.
No dia seguinte vou à policia, digo que fui roubado e quero apresentar queixa.
"Faça um relatório do que aconteceu, assine e depois eu assino e carimbo." Só isto! Nem sequer quis ficar com uma cópia da declaração ou saber em detalhe o que me tinha sido roubado. Foi só para não estar quieto.

Nesse mesmo dia recebo um mail de um cingalês a dizer que tinha encontrado o meu mail e nome nos metadados de uma fotografia que tirou ao experimentar uma câmara fotográfica que lhe tinham tentado vender. Perguntou-me igualmente que câmara e lente eu tinha: "Uma Canon 5D Mark III com uma lente 24-105L" Era a que ele tinha, era a minha.

Acontece que esse alguém era fotógrafo de casamentos e estava interessado numa câmara para o seu trabalho. Quando viu a que lhe estavam a querer vender, ele considerou que era boa demais e foi verificar se não seria roubada. Insiro sempre a minha informação de contacto nos metadados das imagens e ele como fotógrafo sabia o que procurar e como procurar. Pegou num cartão dele e disparou uma imagem e foi qual a informação que constava dela.
Vivia em Galle, exactamente o último sítio do Sri Lanka onde iria estar antes de regressar para Portugal dois dia depois. Combinamos o dia e a hora para a devolução. Perguntei pelos cartões. Ele não os tinha. Talvez os que tinham tentado vender a câmara os tivessem. Faço bluff:
- "Sou jornalista e fotógrafo de viagens. Os cartões são necessários para um trabalho para uma revista de viagens portuguesa."

No dia combinado aparecem três pessoas: o fotógrafo de casamentos e mais dois homens que calculei que fossem os que me tinham roubado a câmera na praia. O fotógrafo estava visivelmente nervoso, os outros dois estavam com uma postura altiva. Estes últimos querem dinheiro. Digo-lhes que só lhes pago quando tiver o material fotográfico e os cartões na minha mão. Dão-me a câmara com a lente mas não os cartões.
Chantageio, dizendo que se não me entregarem os cartões, faço queixa deles à embaixada portuguesa. Na verdade não tinha qualquer esperança em recuperá-los.
O facto é que um dos homens mete a mão no bolso, tira-os e entrega-mos. Que alívio!
- "Para vos dar dinheiro tenho que ir ao hotel primeiro."
Seguem-me. Entro no hotel e já não saio de lá. Poucos  minutos depois ouço gritos lá fora falando que querem o dinheiro mas ignoro-os. Na manhã seguinte estava convencido que iria ter alguém à minha espera. De manhã quando saio do hotel, propositadamente deixo o meu dinheiro e a câmara no quarto.
Ninguém.




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