Delta do Okavango, Botswana - dez anos, algumas histórias

Botswana, Agosto 2009


Cedric, o chefe dos guias e "polers" na noite anterior tinha feito um pequeno briefing sobre o que fazer caso encontrássemos alguns dos principais predadores que podíamos encontrar no safari que íamos fazer a pé na manhã seguinte: leão, hipopótamos, búfalos, elefantes.
Recordo-me particularmente bem dos conselhos relativamente aos elefantes.

"Existem dois tipos de ataques: os falsos que são para intimidar e assustar e os genuínos.
Com as mãos e os braços, Cedric ia exemplificando o que explicava:
"Nos ataques de intimidação as orelhas estão largas e abanam, a tromba está desenrolada e agita-se no ar de um lado para o outro e o elefante pisa o chão, alternando as patas da frente. A esmagadora maioria das vezes é este tipo de ataque acontece. Ok?"
Assentimos todos.
"Agora quando de facto ataca, o elefante coloca as orelhas para trás, junto ao seu corpo, enrola a tromba também para trás e baixa a cabeça mostrando as sua presas. As patas não pisam o chão.
Ok de novo? Estão claras as diferenças?"
Segundo assentimento geral.

Cedric, prossegue:
"O que fazer em cada um deste tipo de ataques?
Nos falsos, devemos ficar quietos em frente dele. Não fugir. Levantar as mãos no ar e gritar, fazer barulho. Recuar calmamente sem virar costas. Fugir só o provoca mais, pode despertar a sua fúria e agressividade, transformando o ataque falso num verdadeiro. É a última coisa que devemos fazer.
Nos verdadeiros sim, devemos fugir. Não se esqueçam que eles são grandes, pesados e portanto difíceis de manobrar. Cansam-se depressa. Fugimos em ziguezague, escondemo-nos atrás de grandes pedras, arbustos densos ou árvores e subir a estas se conseguirmos. Atirar algo para o lado oposto ao da nossa fuga, um chapéu, um pau ou uma pedra para o confundir. Fazer o mínimo barulho possível. Eles vêem mal mas têm uma excelente audição."
Quando acabou, o guia não perguntou se estava tudo ok como anteriormente. Ao invés, fez perguntas aleatórias a cada um de nós. Pareceu satisfeito com as respostas dadas.

Madrugada do dia seguinte. Antes da partida Cedric faz um novo briefing e repete rapidamente a informação dada no dia anterior.
"Vamos partir em fila indiana e ninguém sai desta formação. Os animais selvagens têm dificuldade em perceber o que se passa. O objectivo é verem-nos como um animal muito comprido e que não conhecem."

Partimos. Fila indiana bem organizada e certinha. Cerca de vinte metros depois, escondido pela vegetação, um elefante come folhas nos ramos de uma árvore próxima do acampamento. O guia pára de imediato. O elefante vê-nos e fica nervoso: brame, agita a tromba no ar e abana as enormes orelhas. Um ataque simulado. "Não fugir!" Tarde demais. Tudo foge. Exactamente o oposto do que tínhamos sido fortemente aconselhados a não fazer. Eu incluído.
Fujo para detrás de uma árvore que mal me esconde. Apenas Cedric e os outros dois guias ficam em frente a ele numa pretensa calma. Recuam suave e silenciosamente, e sem lhe virarem as costas voltam para o acampamento.

Minutos depois, ainda cheios de adrenalina, recomeçávamos o safari.
Incrivelmente, talvez uma hora depois, dois búfalos excessivamente curiosos iriam colocar, desta vez, os guias mesmo nervosos.



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