dez anos, dez maravilhas V - Lalibela, Etiópia

Lalibela, Etiópia - Outubro 2014

Um visionário foi capaz de olhar para um local e onde era só rocha viu que se podiam esculpir onze igrejas e tentar reproduzir a cidade santa de Jerusalém, na Etiópia. Para que não fosse necessário peregrinar à verdadeira Jerusalém.
Esse visionário, um rei etíope de nome Lalibela, que significa por quem as abelhas veneram, construíu-as entre os séculos XII e XIII, enquanto durou os seus quarenta anos de reinado. Lenda e história entrelaçam-se maravilhosamente. A história, é imprecisa. Diz que foram vários milhares de homens que ao longo de vinte, talvez quarenta anos as erigiram. Em ajuda da muito indecisa história, intervém a lenda. Tal só aconteceu porque enquanto os homens trabalhavam de dia, um exército de anjos trabalhava de noite.

As igrejas foram iniciadas pelo fim. Na parede rochosa, blocos de pedra ou onde as pessoas caminhavam, pisando chão, o rei viu topos de onze igrejas. E depois escavando bem mais para baixo, talhou paredes com vários metros de altura. E entre essas paredes, no interior de rocha, foram pensados e cinzelados, arcos, abóbadas, altares, salas e câmaras. E no interior das mesmas, pensou em decorações e santos em baixo relevo. A ligar estas igrejas, Lalibela criou escadarias, corredores, pátios e túneis. E se Jerusalém original tinha um rio, o Jordão, então a cópia desta cidade, que viria a ter o nome do rei etíope que a estava a construir, teria também que ter o seu e chamou-lhe Yordannos.

Um guia ir-me-à levar por entre estas igrejas durante dois dias, desvendando os seus detalhes e segredos. Entro e saio delas, percorro os túneis que as ligam, enquanto ele vai desvendando histórias, datas e nomes. Frequentemente não o oiço. Na minha cabeça pairam, insistentes e de espanto, perguntas "Como foi que planearam??"; Como foi que fizeram??"; "Como conseguiram??"

Em 1520, o padre português Francisco Álvares escreveu a propósito de Lalibela, na sua obra Prestes João das Índias, o seguinte:
[…] Enfado-me de mais escrever destas obras, porque me parece que me não crerão se mais escrever e porque, ao que escrito tenho, me poderão tachar de não verdade, portanto juro em Deus cujo poder estou que todo o escrito é verdade e é muito mais do que escrevi e o deixei por me não tacharem ser mentira. E porque a estas obras não foi outro português senão eu que fui lá duas vezes para as ver, pelo que ouvia delas. […]

Percebo genuinamente o que o padre escreveu. Lalibela é demasiado incrível para facilmente se descrever a alguém e sermos convincentes no que contamos.
Lalibela é uma maravilhosa mistura de arte, engenharia, história e lenda tudo opulentamente embrulhado em oito séculos de tempo.









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