Podia ter feito o Caminho Inca mas preferi não o fazer. Optei por um outro trekking, o Lares Trail de três dias, que me levava pelo coração dos Andes e das suas comunidades com a vantagem de evitar centenas de pessoas a fazerem o mesmo trilho.
Na minha mochila levava várias coisas que tinha comprado antes de iniciar: material escolar diverso, carrinhos, travessões, pulseiras, bastante pão (nesse dia ia dormir em Huacawasy) e vários sacos bem recheados de folhas de coca.
Esta senhora cruza-se comigo em passo lento, distraída, com um fuso na mão. Só no momento em que nos encontramos é que parece ganhar consciência da minha presença e olha de repente para mim.
Aproveito o momento para lhe oferecer pão e um saco de folhas de coca. Tiro tudo da minha mochila e estendo-lhe as ofertas para ela. Parece parada no tempo. Precisa de alguns segundos para reagir. Ao contrário do que esperava não estende a mão. Em vez disso levanta as suas saias numa dobra e estende-a para mim. Percebo o que tenho que fazer e deposito as coisas lá.
Então pega no pão dá-lhe um beijo e então guarda-o nas suas vestes. Já as folhas de coca não tiveram a mesma sorte do pão. Vão nas suas mãos.
Mais tarde o guia peruano explicou que para estas pessoas o pão, além ser difícil de se obter, é um alimento sagrado e muito importante. Um alimento dos Deuses.
Nós, no Ocidente, mandamos pão, e restos de comida, displicentemente fora sem qualquer tipo de preocupação. Sem sequer pensar que para alguém é algo tão importante que é considerado sagrado.
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