dez anos, dez maravilhas VI - complexo arqueológico de Angkor, Camboja

Angkor, Camboja - Novembro 2016

Houvesse uma entidade oficial, competente e independente como a Unesco, capaz de avaliar a arte, a história, a importância e o contexto de um determinado local sobre os restantes e teríamos não só Lalibela, na Etiópia, na lista das novas sete maravilhas do mundo, mas também o complexo arqueológico de Angkor, situado no Camboja, nessa mesma lista. Mas como não houve...

O complexo arqueológico de Angkor - a poucos quilómetros de Siem Reap, uma pequena cidade localizada no noroeste deste país do sudeste asiático - é o maior cartão de visita que o Camboja tem para oferecer a quem o visita.

A cidade de Angkor ou Angkor Thom, é uma cidade em forma de quadrado, muralhada por paredes que chegam aos oito metros de altura. A entrada pode ser feita por cinco monumentais portões de pedra, os "gopura", encimadas por faces esculpidas. Quatro destes gopura estão virados para os quatro pontos cardeais estando o quinto também virado para Este. Usualmente a entrada em Angkor faz-se pelo gopura sul.
O seu nome significa em khmer a "Grande Cidade". Erigida pelo rei Jayavarman VII que a tornou capital do império Khmer, entre os séculos IX e XV, terá tido nos seus tempos áureos, cerca de setecentas e cinquenta mil pessoas a viverem as suas vidas entre estas paredes.
Construíram dezenas de templos dentro e fora da cidade. Para além da cidade em si, dos famosos terraços dos Elefantes e do Rei Leproso, é a arte, a decoração e a arquitectura que torna esta antiga cidade khmer e os seus templos fascinantes.
Entre os inúmeros pontos de interesse deste complexo, entre palácios e templos, três deles são imperdíveis.

Angokor Wat

Angkor Wat, o templo de Angkor, fora das muralhas da cidade é o maior chamariz de visitantes deste complexo arqueológico. É o maior templo religioso do mundo e terá sido construído na primeira metade do século XII pelo rei Suryavarman II. Pensa-se que teria como objectivo ser o seu próprio túmulo ou mausoléu. Contudo o seu desejo não tornaria realidade uma vez que morreria em combate durante uma expedição ao Vietname.
Ao nascer do sol o local revela-se mágico. Centenas de pessoas levantam-se de madrugada para percorrer os cerca de cinco quilómetros e meio que distam de Siem Riep, a pequena cidade onde todos os que visitam este complexo se baseiam para assistir a este momento tão procurado. As torres de Angkor Wat recortam-se no céu matinal e reflectem-se nos pequenos lagos que se situam na entrada virada para Ocidente, ao longo da Rainbow Bridge.
Depois é percorrer alas e corredores que percorrem todo o templo que começou por ser hindu, dedicado a Vishnu e posteriormente se tornou budista. A sua decoração, a sua arte, reflectem esta transição e ambivalência de crenças.
Culturalmente Angkor Wat é tão importante para os cambojanos que estes incorporaram a silhueta da sua entrada na sua bandeira nacional.



Bayon

É dentro de Angkor Thom que existe o maior tesouro desta cidade, o que mais me atrai e fascina numa cidade, com novecentos anos, toda ela fascinante e atraente. 
Propositadamente construído no centro, no coração da cidade - são quinhentos metros desde a entrada sul - está Bayon. 
O templo, budista de raiz, foi erigido quase cem anos depois de Angkor Thom, pelo rei King Jayavarman VII, entre os finais do século XII e início do século XIII.
Um recinto onde originalmente seriam 54 torres de pedra trabalhada, hoje sobrevivem 37, cada uma com quatro rostos que com lábios grossos e olhos pronunciados, sorriem de uma forma bondosa, serena e misteriosa para quem olha para eles em qualquer lugar do templo.
O que estes imensos (alguns atingem mais de dois metros de altura) rostos representam não é certo. Há várias interpretações. Uma afirma que é o rosto do próprio rei Jayavarman VII, outra diz que representam rostos de Buda e uma terceira, uma ponte entre as duas anteriores, teoriza que é o rosto do rei metamorfoseado no rosto de Buda.
O templo é um intricado de galerias, nichos e corredores. Os baixos relevos espalhados por todas as paredes do templo, à semelhança de todos os outros, descrevem cenas do dia a dia, batalhas, divindades, apsaras (dançarinas celestiais) e dvarapalas (guardiões guerreiros), são fenomenais.



Ta Prohm

Enquanto a maioria dos visitantes clama por Angkor Wat, depois de Bayon, eu procuro sempre por Ta Prohm. Tornou-se particularmente conhecido depois Angelina Jolie ter vestido a pele de Lara Croft e passado aqui boa parte das suas aventuras no filme Tomb Raider.
Também construído pelo rei Jayavarman VII em finais do século doze, este templo foi originalmente dedicado à mãe do rei.
Ta Prohm está imerso no verde da selva. Labiríntico, é um templo com uma intensa aura etérea, surreal, misteriosa.  Raízes de árvores gigantescas e retorcidas há muito que reclamaram como seu aquele espaço. O que o homem abandonou, a natureza reclamou de volta. 
As raízes penetram, crescem e entrelaçam-se pelas paredes, pelo chão e pelos tectos dos edifícios deste complexo. São grossas, espessas, poderosas e praticamente omnipresentes. Tanto suportam os diversos edifícios do templo como os fragilizam causando o seu colapso. De aspecto surreal e algo alienígena, elas remetem com alguma facilidade para o universo fantástico do suíço H. R. Giger.
O tempo, essa entidade também ela omnipresente e pesada, vertendo pedra sobre pedra, transformou em ruínas boa parte deste recinto. Elas próprias também abraçadas pelas raízes e suas superfícies assoberbadas por um verde predador e assertivo. 

Ta Phrom é uma surreal e assaz estranha mistura de árvores, raízes, selva e ruínas, cujo resultado tanto nos cativa e agarra como nos sobressalta e intimida.



Reduzir Angkor a Bayon, Ta Phrom e Angkor Wat é quase criminoso. A lista de templos a visitar, das duas vezes que aqui estive, e precisei de três dias para ver a maior parte da sua área, é enorme. Se estes templos são as jóias da coroa, outros há que merecem a nossa atenção, tempo e admiração:
  • Pre Rup
  • Ta Som
  • Preah Khan
  • Banteay Srei
  • Banteay Kdei
  • Ta Keo



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