série "Rostos do Meu Rosto" - XXIV

O Vale do Omo, no sul da Etiópia, é fascinante. Não só pelas paisagens que oferece mas também por ser a região onde habitam cerca de oito tribos diferentes. Algumas das quais permitem que estranhos partilhem o dia a dia com eles. Uma delas, são os Hamer.
Passaria quase três dias com eles o que me permitiu conhecer os elementos da tribo razoavelmente bem.
Três dos os mais importantes da aldeia: o ancião (com o qual tive uma audiência a seu pedido), a sua mulher (cega) e o "herói".

O herói da aldeia pavoneava-se ostensivamente à nossa volta. Era fácil de o distinguir. Tinha uma pena preta no topo da cabeça.
A pena mostrava que ele tinha feito algo de grandioso, notável e que a tribo o tinha reconhecido. 
Tentei perceber junto de Chuchu, o meu guia etíope, o que ele tinha feito. Parece que havia várias versões. Uma afirmava que ele tinha morto um animal selvagem com as nuas, outros diziam que tinha sido com uma arma e ainda diziam que tinha morto um inimigo da tribo. Aquela pena tinha origens algo confusas.

Fotografar era o que mais queria. Para lhe tirar fotografia preparou várias poses. Escolheu uma e fez o seu melhor ar de intimidação. Depois pediu dinheiro. Recusei e com a minha mão abarquei todo o espaço à nossa volta. Havia uma regra que tinha sido estabelecida previamente e que Chuchu explicou: podíamos fotografar toda a tribo, desde que a sua cultura e privacidade não fosse invadida ou perturbada, sem ter que pagar nada.
No entanto não quis deixá-lo de mãos vazias e ofereci-lhe um sabonete, uma espécie de moeda usada para pagamentos, dada a falta de produtos de higiene naqueles locais, e que tinha comprado em grande quantidade. Oportunidades para os distribuir não iria faltar assim como alguns quilos de fruta que trazido comigo.
O "herói" não hesitou: quase que o arrancou da minha mão e voltou a mostrar o seu semblante ameaçador, apontado com a sua mão a pena negra: o seu orgulho e status.
Mostrei-lhe a fotografia e obtive a sua aprovação.









Comentários