Bruxelas, Bélgica - Atomium, tecnologia e indústria

Provavelmente é o cristal mais famoso do mundo. Icónico.
Vi-o pela primeira vez há mesmo muito anos num livro juvenil de ciência.
Sem ter noção do que via ou onde ficava, a imponência, a geometria do Atomium de Bruxelas marcou-me desde então.
Atomium resulta da junção, em inglês, das palavras "atom" (átomo) e "aluminium" (alumínio).
E ao contrário do que está generalizado, não representa um átomo de ferro mas sim um cristal de ferro aumentado 165 mil milhões de vezes.
São nove esferas, nove átomos, com cada esfera a medir 18 metros de diâmetro. Inicialmente construídas em aço e revestidas a alumínio. A estrutura total tem 102 metros de altura. 
A história que está por detrás do Atomium é uma história de tecnologia, de poder industrial e, indirectamente, de uma forma não abertamente falada ou abordada, de uma violenta colonização de países africanos altamente lucrativa.

O dia estava cinzento, algo chuvoso, bastante frio e algum vento. 
Entrar no Atomium foi um intervalo agradável na agrura do tempo invernal belga. 


A estrutura cristalina do ferro representa a dinâmica da indústria metalúrgica e do carvão na Bélgica e os átomos representam o advento da tecnologia e energia nuclear como algo acessível, pacífica e segura após ter sido usada de forma aterradora por meio do lançamento das bombas atómicas no final da Segunda Guerra Mundial para fazer capitular o Japão. Os primeiros passos para o início da Guerra Fria estavam dados- quer ao nível do armamento nuclear, quer, principalmente ao nível das ideologias políticas. Capitalismo vs socialismo. No final da década de 50, a Guerra Fria estava quase no seu auge.

Em 1958, com várias décadas de colonização polémica e uma sangrenta exploração de vários países africanos - os actuais República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi - que lhe dava acesso a borracha, marfim, cobre, ferro e metais preciosos, a economia belga era uma das mais poderosas e dinâmicas do mundo. Esse desastroso período de colonização é actualmente fortemente discutida, questionada e posta em causa pela sociedade belga.
A exposição desse ano era a forma desejada pela Bélgica de fazer uma afirmação ao mundo, de mostrar que tinha uma posição dominante no mesmo e trazer ao de cima, algo cinicamente, a questão do humanismo elegendo-o como tema da exposição.
O Atomium servia na perfeição como símbolo dessa dominância, de projecção da Bélgica para o futuro e simultaneamente, como também desejado, uma resposta à Torre Eiffel inaugurada em Paris, na abertura da Feira Mundial de 1889.

Tal como a famosa torre francesa, o Atomium nasceu com os dias contados. No fim da exposição, seis meses depois, seria desmantelado. No entanto, o seu sucesso, o número de visitas durante e após a feira, garantiu-lhe o lugar definitivo na capital belga, tornando-se o ícone maior da cidade e do país.


Após várias propostas anteriormente falhadas, é a do engenheiro André Waterkeyn, em parceria com os irmãos arquitectos André e Jean Polak, que nasce a ideia de construir o icónico cristal de ferro.
No âmbito da Exposição Mundial de Bruxelas, a 25 de Março de 1958, dois anos após o seu começo, o Atomium ficou concluído. Tem no seu interior elevadores, escadas rolantes, um restaurante, espaços para eventos e exposições temporárias e permanentes.
Posteriormente, entre 2004 e 2006, o monumento sofreu obras de remodelação e restauração tendo adquirido iluminação nocturna exterior e as chapas de alumínio que revestiam as esferas sido substituídas por aço inoxidável, ostentando o aspecto actualmente apresenta.

Visitar o Atomium é entrar num pedaço de história, orgulho e ego belga. Um símbolo por excelência da ciência, de modernidade e visão de futuro. Mas não é particularmente fascinante. As exposições são pouco ambiciosas, o contexto histórico em que se insere é parco em informação. 
Fica a curiosidade, simbólica, de se estar no interior de um átomo, de cruzar as escadas rolantes dos tubos, saltando de átomo em átomo - apesar de nem todos estarem abertos ao público - e de se ter uma vista privilegiada no topo da esfera mais alta. 

À saída havia agora uma mistura confusa de chuva e efémeros flocos de neve. O vento, esse, mantinha-se desagradável.
A missão estava cumprida. O antigo adolescente teve a sua curiosidade satisfeita.













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