14 anos

Os anos, paulatinamente, continuam a avançar..
O Passaporte atingiu os quatorze anos. 2023, foi um ano de viagens completamente impactantes, com marcas para a vida: Síria e Líbano.

Na Síria, pela primeira vez, contactei, em primeira mão, com a destruição de um país devido a uma guerra civil e de uma outra guerra, contra o Daesh, dentro da própria guerra civil. Algo confuso, admito.
Ainda na Síria testemunhei a destruição que um grande terramoto pode provocar. Aleppo, é uma mistura de destruições muito recentes: guerras e terramotos.
Percebi e assisti, também em primeira mão, o que é um povo tirar de si tudo o que tem para fazer, retomar uma vida (o mais) normal, sorrir para quem os visita. 
Esperava um povo taciturno, fechado, pouco aberto a quem os visita. Bem pelo contrário. Sorridente, prestável, aberto a mostrar a sua cultura, a sua história antiga mas sem também esconder a sua história mais recente e bem negra e destrutiva.

Líbano, mais concretamente Beirute, foi outro choque. Igualmente fortíssimo. 
Um país também devastado também por uma violenta guerra civil. Um país onde a esperança no futuro não tem a mesma confiança, crença e força que a sua vizinha Síria demonstra.
O murro no estômago foi a oportunidade de conhecer as comunidades de refugiados de Sabra e Chatila. No primeiro, essencialmente refugiados da Síria, Paquistão, Bangladesh e até libaneses, no segundo essencialmente palestinianos. 
Nestas comunidades esbarrei de frente contra uma realidade que só estava habituado a ler, ver e ouvir em televisões, revistas e documentários.
Conheci-os, falei com eles, mostraram e contaram as suas história, dores, o seu sofrimento, as suas (quase inabaláveis) esperanças, as suas memórias e o museu onde as guardam e que tem o apropriado nome Museu das Histórias. Aqui conheci e a prendi pela primeira vez uma das palavras mais importantes, das suas vidas, da sua história, do seu sofrimento: Nakba (Catástrofe em árabe).
Fiquei desapontado comigo próprio por nunca me ter cruzado antes com esta palavra.
Se todos nós conhecêssemos o profundo significado desta palavra, muitos de nós estaríamos ainda mais sensibilizados, mais chocados e revoltados, para o que está acontecer agora na Palestina

Não sei se tal acontecerá este ano. Mas um regresso a um destes dois países, ou aos dois, está praticamente decidido. Se tal acontecer será para ultrapassar a mera visita, ou viagem. Será para dar o meu tempo, a minha disponibilidade, a quem me recebeu e a quem sofreu tanto.
Quer num, quer no outro país é uma tentativa de apaziguar, diminuir a sensação de... culpa que sinto por ter demorado tanto tempo a conhecer a palavra Nakba.



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