Luxemburgo - o segredo traído de Melusina

Cabeça ligeiramente inclinada, esbelta, de seios delicados e rosto sereno de traços suaves. Solitária e imersa em solidão, o seu olhar nostálgico, resignado e sem mágoa, está perdido no rio e nos seus pensamentos. Reflete uma perda emocional: a felicidade que um dia já foi.
Sentada, tem a seus pés o rio Alzette, correndo entre murmúrios. Atrás de si, tem as falésias do promontório Bock e à sua frente, os edifícios históricos pertencentes ao bairro Grund. 
Ao longe, destaca-se na mancha verde das árvores pela sua cor, diria, roxa.
É a escultura de uma sereia. Chama-se Melusina e a sua história está profundamente ligada às origens do Luxemburgo. Faz parte de uma lenda composta por tudo aquilo que as lendas são conhecidas: amor, segredos, intriga e um final triste.



Recuemos ao ano de 963, o ano tido como a fundação do Luxemburgo e comecemos pelo amor. 
O conde Siegfried de Ardenne, histórico fundador deste país, andava a caçar no rio Alzette e depara-se com uma bela e misteriosa mulher chamada Melusina. A paixão foi imediata e pediu-a em casamento.
Melusina não ficou atrás do Conde e, igualmente apaixonada, aceitou o seu pedido. A jovem, contudo, carregava consigo um segredo que não queria revelar e, para casar com o Conde, impôs uma condição rigorosa: todos os sábados a jovem queria estar sozinha e jamais deveria ser observada ou procurada nesses dias.Siegfried não hesitou um segundo e aceitou a condição imposta. Casam-se. Vão viver para o castelo Lucilinburhuc — que por deformação fonética se tornaria Luxemburgo. Têm vários filhos e Melusina revela-se uma mulher e mãe de exceção. São felizes e Siegfried cumpre escrupulosamente o que tinha prometido à sua mulher.

Os conselheiros do Conde Siegfried começam insistentemente a levantar suspeitas sobre a natureza daquele ritual: estaria a jovem a ser infiel ou a praticar atos de bruxaria? O Conde hesita inicialmente mas cede às intrigas e decide quebrar o seu juramento.
Num fatídico sábado, descobre o segredo da jovem. Tomava banho na sua banheira e, no lugar das pernas, Melusina exibia uma cauda de sereia, a sua forma mágica de um espírito das águas.
Siegfried não conteve uma exclamação de surpresa, assustando a bela sereia. Melusina percebeu de imediato que o seu segredo tinha sido revelado e, num grito de dor, atirou-se ao rio Alzette para nunca mais ser vista.


Melusina era amada pelo povo luxemburguês, para os não abandonar, a lenda conta que de sete em sete anos esta regressa às águas do Alzette, emergindo em segredo para poder estar com eles e os proteger.
Contudo, como diz o ditado (e em matérias de lendas e contos quem conta um conto acrescenta um ponto), a história não acaba aqui. Há a possibilidade de um final feliz.
Melusina, quando emerge das águas, tem na sua boca uma chave de ouro: a chave do castelo onde viveu. Quem conseguir retirar a chave de ouro da sua boca, liberta a sereia da sua condição, podendo tomá-la como sua esposa.
E mais não sei.

O lugar onde hoje está sentada representa o sítio onde desapareceu e, por sua vez, reaparece no castelo Lucilinburhuc sem que ninguém a veja.
A estátua que podemos admirar é uma homenagem a esta lenda. 
Impressa em 3D e instalada em 2015 por um artista local, Serge Ecker, ano em que o Luxemburgo celebrava os 1052 anos sobre o ano da sua fundação em 963. 
As ruínas do castelo ainda podem ser observadas no topo do promontório Bock e por baixo delas localizam-se as famosas Casamatas, onde foram escavados túneis e câmaras subterrâneas para albergar e proteger soldados, armamento e cavalos.




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