série "Rostos do meu Rosto" - II

Já perdi várias fotografias de rostos. Por estarem desfocadas, tremidas, por terem sido tiradas à pressa. Não gosto de demorar mais que uns quantos segundos a tirar uma fotografia a alguém.
Para quem se deixa fotografar, uma dezena de segundos é uma eternidade.
Dentro das fotografias de viagens são aquelas que mais me custam perder.
Não tanto tecnicamente, não tanto por poder ou não voltar ao país que viajava na altura, mas acima de tudo ter desperdiçado o privilégio da confiança que alguém me concedeu de ser fotografado.

Esta foi uma fotografia rápida. Na verdade, quase que foi "roubada". 
Esta senhora estava sentada nuns degraus de uma casa qualquer num beco perdido de Sucre, na Bolívia.
Tinha um ramo de flores amarelas no seu colo e vários ao seu lado em cima do degrau onde se sentava.
A sua tez, o chapéu e o poncho que tinha sobre os seus ombros combinavam na perfeição. 
Num perfeito "portinhol" perguntei-lhe se podia tirar-lhe uma fotografia. Por algum motivo qualquer mal esperei pela resposta ou por um aceno de cabeça que me dissesse que consentia. Tirei de rajada algumas fotografias. Mostrei-lhas e já me afastava quando a ouço a chamar-me. Viro-me e vejo o gesto da sua mão a pairar sobre os ramos de flores.
Não estava mesmo interessado nelas mas sentia a consciência algo pesada pela forma como a fotografei. Compro-lhe um ramo de flores, para a compensar e aliviar o peso que sentia. Poucos minutos depois ofereci-o a uma jovem que passou por mim.









Comentários

  1. A diversidade do ser humano....Aqui os rostos mas também as almas.
    Gostei muito! :)

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