série "Rostos do Meu Rosto" - III

Eram três amigas sentadas num banco que iam falando entre si.
As senhoras das extremidades usavam chadores pretos e a do meio contrastava fortemente com elas pelo colorido das vestes. Um arrojado hijab laranja caído numa túnica preta com bordados de um castanho alaranjado. Uma combinação bem sucedida. Esta senhora também se destacava das amigas pela forma mais divertida com que se exprimia e gesticulava.

Eu estava afastado uns metros razoáveis, sentado num outro banco em frente ao das três amigas, a ler um livro cujo título não me recordo, e não estava com muita vontade de ir até lá.
Estava decidido a aproveitar a oportunidade e "roubar" uma fotografia. Fui tirando várias, sem me preocupar muito com o tempo que estava a demorar procurando a melhor imagem possível. A certa altura, inevitavelmente acaba por acontecer, fui descoberto. Num gesto inútil, pousei de imediato a câmara no meu colo. Não fez sinal para eu parar ou apagar as fotografias que tinha tirado, pelo contrário. Aposto que a seguir fez uma ligeiríssima pose para eu conseguir a minha fotografia. Retomo a câmara e fotografo-a rapidamente mas de uma forma mais tranquila.
Voltou o rosto de novo para mim, eu agradeci-lhe sorrindo, fazendo um aceno com a cabeça e um adeus também discreto. Ela retomou a conversa e eu o meu livro. Quando me fui embora, as três ainda tagarelavam.






Comentários

  1. Os paradoxos de um retrato, sem dúvida!
    Vê-se pelos ditados portugueses: "Quem vê caras, não vê corações" ou "Os olhos são os espelhos da alma".
    Acredito que se podem verificar ambos os casos em situações diferentes e díspares no tempo.
    Quanto aos que aqui estão, são belos!
    Penso que já aqui vi a jovem do Irão. Tem um olhar sereno, confiante, de quem se sente segura de si.
    O olhar penetrante do menino da Índia atravessa-me a pele:)
    Todas as outras são belas, também. Porque a beleza existe também num rosto cheio de rugas, marcado pela dureza da vida.
    Uma foto deve transmitir autenticidade( à exceção de fotos artísticas, claro). É o que estas fazem.
    Mais uma vez obrigada pela partilha, Pedro.

    Beijinho

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